Sem Limites: A Primeira Volta ao Mundo


Os seis episódios da minissérie espanhola Sem Limites servem como um mero resumo da incrível expedição que fez a primeira circum-navegação da História. Os eventos mostrados em tela dão apenas uma rápida ideia das maravilhas encontradas e dos terrores vividos pela tripulação liderada por Fernão de Magalhães (Rodrigo Santoro) e Juan Sebastián Elcano (Álvaro Morte). Além dos perigos dos mares desconhecidos, os navegadores precisaram enfrentar ameaças vindas de traições, sabotagens, calmarias, motins e conflitos com os povos indígenas dos locais alcançados.

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No primeiro episódio, a minissérie mostra que a situação de Magalhães era frágil desde o início. Ignorado pela Coroa portuguesa após anos de serviço, ele deserta para a Espanha e oferece sua experiência ao rei espanhol. Sua proposta era incrivelmente ousada: montar uma expedição que traçaria um novo caminho para as Índias, pelo oeste, contando com a descoberta de uma teórica passagem entre o Oceano Atlântico e um grande oceano ainda desconhecido para os europeus. Além disso, ele seria o líder português de uma expedição espanhola, o que já lhe rendia a antipatia da tripulação.

Os cinco navios partiram em setembro de 1519 com 234 tripulantes, mas apenas uma das embarcações retornou em setembro de 1522, com 18 sobreviventes. Um desses sobreviventes foi Antonio Pigafetta (Niccolò Senni), escritor italiano que eternizou os acontecimentos da viagem na obra A Primeira Viagem ao Redor do Mundo.

Um personagem que Sem Limites deixa de fora é João Lopes de Carvalho, o Carvalhinho. Esse piloto português veio para o Brasil em 1511, conduzindo a nau Bretoa sob o comando do capitão Cristovão Pires. Nessa ocasião, ele foi acusado de um crime e condenado ao degredo no Rio de Janeiro. Seu resgate ocorreria em 1516, quando voltou para a Europa a bordo do navio capitaneado pelo espanhol Francisco de Torres, que era parte da expedição liderada por Juan Díaz de Solís.

Em 1519, Carvalhinho se tornou um dos pilotos da expedição de Magalhães, utilizando seu conhecimento sobre o Brasil para ajudar o navegador a evitar as autoridades portuguesas. Em Sem Limites, a chegada de Magalhães ao Rio de Janeiro é representada de forma genérica, com o contato com uma tribo que fala guarani (que provavelmente não era falada na região do Rio) significando a chegada à América do Sul. Aparentemente, a minissérie condensou a chegada ao Rio como descrita por Pigafetta com o contato com outros povos indígenas do continente.

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sem limites 4Obviamente, a história de Sem Limites é contada sob o ponto de vista dos colonizadores, com rápidas menções à natureza violenta das explorações realizadas por eles. Porém, assim como mostrado na minissérie Extermine Todos os Brutos, há outros pontos de vista para essa história. Enquanto Magalhães é um celebrado navegador na cultura ocidental, nas Filipinas um dos heróis nacionais é Lapu-Lapu, o chefe da tribo indígena que tirou a vida do navegador.

Magalhães já foi considerado o descobridor das Filipinas, mas há historiadores do país que preferem considerá-lo apenas o “primeiro turista” da região.

sem limites 5Há também questionamentos sobre quem terá sido o primeiro homem a realmente dar a volta ao mundo. A rigor, pode ter sido o próprio Magalhães, apesar de ele ter morrido em 1521, antes do final da expedição. Isso se dá porque o navegador já havia estado, em 1512, nas proximidades da região onde perdeu a vida. Dessa forma, sua volta ao mundo teria se iniciado nas Ilhas Molucas em 1512 e terminado na ilha de Cebu em 1521.

Porém, o mesmo raciocínio vale para Enrique (Colin Ryan), o servente malaio que Magalhães havia comprado na viagem de 1512. Se o jovem escravizado esteve em regiões à leste das Molucas antes de se juntar a Magalhães, então sua volta ao mundo se completou antes mesmo da volta feita pelo navegador.

Independente dos detalhes geográficos, Sem Limites é uma rara representação das Grandes Navegações no formato audiovisual. Enquanto outros povos (como os vikings, os romanos e os ingleses) são constantemente representados em produções locais ou de origem hollywoodiana, os portugueses e espanhóis recebem pouquíssima atenção. Mesmo produções que também lidam com navegadores, como O Reino Perdido dos Piratas e Mestre dos Mares, focam nos feitos de ingleses e de outros navegadores séculos depois das navegações que expandiram os horizontes e as possibilidades para a humanidade.

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