Mayor of Kingstown: A Prisão da Estupidez


Em determinado ponto da primeira temporada de Mayor of Kingstown, os guardas de um presídio estão tentando convencer o administrador do local a pegar pesado com os detentos ao invés de tentar negociar com eles. Sem entender direito o porquê dos prisioneiros estarem agindo de forma mais violenta do que o “normal”, ele prefere ser cauteloso e segue tentando entender o que está acontecendo. Os guardas, por outro lado, defendem que a única forma de lidar com a situação é mantendo os internos trancados 24h por dia até que eles comecem a cooperar. A decisão do administrador prevalece, resultando em consequências… catastróficas.

mayor of kingstown prisão 1

Porém, o que o administrador não sabe é que semanas antes aqueles mesmos guardas, com a colaboração de policiais, fizeram um acordo nefasto com os detentos; e que quando os criminosos começaram a fazer demandas absurdas, os guardas responderam pegando pesado com os líderes das facções; e que agora milhares de presos se sentem traídos e indignados diante da situação. O protagonista Mike McLusky (Jeremy Renner) havia avisado aos guardas e aos policiais que fazer aquele acordo era a pior ideia possível e eles estariam se colocando em uma situação absurdamente complicada. Porém, no calor do momento, eles preferiram seguir em frente.

Os próprios líderes das gangues alertam Mike de que o acordo não faz o menor sentido para os policiais, que vão ficar devendo um “favor” a várias facções criminosas por algo que eles mesmos poderiam fazer. Mike responde que sabe disso, que avisou isso aos guardas e policiais, e que mesmo assim eles resolveram seguir em frente. O equilíbrio mantido por Mike funciona porque é baseado no pressuposto de que nenhuma das partes fará algo prejudicial para si própria. Quando os agentes da lei agem contra os próprios interesses, esse equilíbrio começa a ruir.

mayor of kingstown prisão 2

Não é que os detentos tenham razão e os guardas deveriam ter simplesmente cumprido o acordo. O problema é que ao fazer um acordo com os criminosos, os guardas passaram a agir exatamente como uma das facções que operam no presídio. Ao invés de se portarem como representantes da lei e da ordem, eles agiram como uma gangue e pediram “justiça de rua” contra um determinado criminoso. Essa decisão, que foi tomada sem se pensar nas consequências de médio e longo prazo, vai se tornando uma bola de neve ao longo da temporada e explode nos episódios finais.

Devido aos castigos que sofrem por pedirem o que eles acham que têm o direito de pedir, os criminosos têm cada vez menos a perder e a situação vai se tornando cada vez mais imprevisível. Enquanto isso, os guardas e policiais acreditam que, por serem agentes da lei, têm o direito de agir por fora dela. Consequentemente, as pessoas que deveriam trabalhar no sentido de encerrar o ciclo de violência que há séculos consome a humanidade acabam servindo apenas para dar continuidade a ele, transformando uma situação muito ruim em uma situação significativamente pior e sendo engolidas pela violência.