Crítica: Herança de Sangue
Blood Father, França, 2016
Singela e focada, ação à moda antiga faz ótimo uso da carga dramática de Mel Gibson
★★★☆☆
Quando sua filha desaparecida liga desesperada em busca de ajuda, o ex-presidiário Link (Mel Gibson) não pensa duas vezes e vai ao resgate. Mas junto com ela vem todos os problemas que a perseguem, sendo o pior deles uma gangue a serviço de um cartel de drogas mexicano.
Graças à atuação de Mel Gibson, não é preciso muito para acreditarmos que Link é um ex-alcoólatra e ex-criminoso de carreira, tendo passado 9 anos na prisão. Mais do que isso, ele também nos convence de que está recuperado e de que entende que desperdiçou toda a sua vida no vício e na violência. O Link de Mel Gibson tem muito pouco do típico herói de ação, e está mais próximo de um homem comum que tomou todas as decisões erradas possíveis ao longo da vida. Muitos filmes de ação tentam passar essa ideia, mas poucos atores conseguem atingir esse nível de verossimilhança. Gibson é um deles.
Quando Link reencontra sua filha Lydia (Erin Moriarty), ela está no mesmo caminho que ele: metida com as pessoas erradas e abusando do consumo de álcool e outras substâncias. Tudo o que ele pode fazer é usar as habilidades que desenvolveu ao longo da vida para tentar mantê-los vivos e resolver a situação na qual ela se encontra. Há aqui a óbvia volta de Link ao homem violento que era no passado, com direito às previsíveis visitas a velhos amigos. O filme segue à risca a fórmula de filmes de perseguição, mas é a evolução da relação entre pai e filha que realmente mantém o espectador interessado. É justamente nesse ponto que a narrativa não se entrega puramente aos clichês, pois mesmo o típico conflito entre filha rebelde e pai à moda antiga flui e evolui de forma mais natural do que em outros exemplares do gênero.
Tudo isso dá ao filme um ar meio faroeste. As cenas de ação são espaçadas e curtas, porém eficazes e fiéis ao estilo B da produção. O ato final foca muito mais no lado emocional do que na ação, o que o torna muito mais gratificante. Com toda a bagagem emocional desenvolvida ao longo do filme, o espectador realmente se importa com o que vai acontecer com essas pessoas quebradas e maltratadas pela vida. Nesse sentido, podemos até dizer que ao invés de ser uma ação com elementos dramáticos, Herança de Sangue é um drama simples pontuado por algumas cenas de ação. Ainda que isso seja um exagero, o filme é uma pequena joia que vale a pena ser conferida.