Crítica: X-Men – Fênix Negra
Dark Phoenix, EUA, 2019
Filme não é uma completa catástrofe, mas decepciona em muitos aspectos
★★★☆☆
X-Men: Fênix Negra é um bom e esquecível filme de ação, e só isso. A magnitude da Saga da Fênix Negra jamais aparece por aqui. O filme tem alguns bons (e não ótimos) momentos, mas ainda assim é um dos mais fracos da franquia. Se X-Men: Apocalipse falhou ao não conseguir ser tão épico quanto gostaria, X-Men: Fênix Negra sequer tenta chegar lá.
Se tratado com o devido respeito, o material fonte poderia render dois grandes filmes épicos, nos moldes de Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato: o primeiro mostraria como Jean Grey (Sophie Turner) se torna a Fênix, enquanto o segundo poderia mostrar sua transformação na Fênix Negra. Mesmo a série animada dos X-Men dos anos 1990 adaptou a Saga da Fênix Negra de forma mais intensa e dramática do que esse filme de duas horas.
Ainda assim, X-Men: Fênix Negra tem alguns aspectos interessantes. O principal deles é o envolvimento do Professor Xavier (James McAvoy) na transformação de Jean. Depois de entrar em contato com a Força Fênix, ela começa a acessar memórias de sua infância que haviam sido bloqueadas por Xavier, o que a deixa ainda mais confusa e agressiva.
Em outras palavras, ao invés de ajudá-la a encarar e lidar de forma saudável com um trauma, ele a fez reprimir as memórias ruins, além de esconder certas informações sobre o seu passado. Isso faz com que ele tenha aqui um papel semelhante ao de Tony Stark em Vingadores: Era de Ultron, com suas boas intenções resultando no surgimento de uma nova ameaça.
Entretanto, o roteiro vai um pouco longe demais ao mostrar Xavier como um líder irresponsável, manipulador e egocêntrico. Essa caracterização encontra respaldo no Xavier que vem sendo interpretado por McAvoy desde X-Men: Primeira Classe, mas mesmo assim parece exagerada. No primeiro ato, a quantidade de vezes que o personagem recorre a uma garrafa de uísque chega a ser cômica, o que talvez seja uma tentativa dos roteiristas de indicar que ele está tendo problemas com a bebida.
Outros destaques são as duas grandes sequências de batalha, especialmente a que se passa em um trem em movimento. Mesmo permeadas por motivações questionáveis e alguns sérios problemas de continuidade (como um helicóptero que, a depender do ponto de vista, está ou não atirando sobre o trem), é sempre bom ver os X-Men usando seus poderes e trabalhando em conjunto para derrotar um inimigo. Não é nada que realmente salve a produção, pois é apenas o mínimo esperado.
Por falar nos problemas de continuidade, há também desleixo com a simples passagem do tempo na narrativa. O caso mais grave ocorre durante a morte de um dos X-Men: há uma batalha; um dos personagens morre; ele é levado de volta para a mansão; há um funeral e há uma intensa conversa na cozinha em uma noite chuvosa. Essas cenas dão a entender que dias se passaram desde a referida batalha, mas a cena seguinte mostra a polícia tratando o local como uma cena de crime recente, com peritos coletando evidências, cordões de isolamento e agentes do FBI pedindo a permissão da polícia para entrevistar testemunhas. É inexplicável.
Todos esses defeitos seriam compensados se houvesse uma grande cena com a verdadeira Fênix Negra em toda sua fúria e esplendor, mas isso não acontece. A personagem que deveria ser uma força incontrolável, destruidora de mundos e devoradora de estrelas jamais se aproxima de todo seu potencial. Para todos os efeitos, a personagem que aparece nesse filme pode ser considerada a Fênix, mas não a Fênix Negra.
Talvez, toda essa falta de cuidado com um material tão rico seja explicada por eventos do mundo dos negócios: para não perder o direito sobre os personagens, o estúdio 20th Century Fox não pode ficar muito tempo (a quantidade exata de anos é incerta) sem usá-los em filmes. Um exemplo é o personagem Demolidor, que voltou para o controle da Marvel em 2012, depois que a Fox passou alguns anos sem usar os personagens de seu universo (em 2003, ela havia lançado Demolidor: O Homem Sem Medo, e em 2005, Elektra).
Além disso, o estúdio precisava mostrar para o conglomerado Disney, que é dono da Marvel, que não pretendia parar de usar os mutantes, o que aumentou a pressão para que ele comprasse a 20th Century Fox. Agora que o negócio está feito, os X-Men podem voltar para a Marvel, encerrando uma longa novela que começou nos anos 1990, quando a editora Marvel declarou falência e saiu vendendo os direitos de adaptação de seus personagens para o cinema.
Por hora, X-Men: Fênix Negra pode até agradar (mas não impressionar) o espectador que estiver com baixíssimas expectativas. Para os demais, resta aguardar por uma adaptação mais apropriada, comandada pelos responsáveis pelo bem-sucedido Universo Cinematográfico Marvel.