Crítica: X-Men ’97 – 1ª Temporada

X-Men ’97, EUA, 2024



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★★★★★


Para quem não sabia ou não se lembrava, X-Men ’97 mostra o motivo pelo qual os X-Men se tornaram a equipe de super-heróis mais popular dos quadrinhos. Essa primeira temporada pode não ser “perfeita”, mas oferece uma perfeita experiência para os fãs de longa data desse lado do universo Marvel. O resultado aqui é comparável apenas ao mega-evento de Vingadores: Guerra Infinita.

x-men '97

Por mais que os Vingadores tenham feito bastante sucesso em seu universo cinematográfico, as “joias da coroa” da editora Marvel sempre foram o Homem-Aranha e os X-Men. No cinema, os mutantes tiveram alguns ótimos filmes, como X-Men 2 e X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Porém, pelos mais diversos motivos, a franquia cinematográfica jamais prezou pela fidelidade (ou pela consistência) na composição dos personagens e das histórias.

Em outras palavras, os filmes jamais trouxeram 100% da intensidade dos quadrinhos e da série animada dos anos 1990 para a tela grande. Agora, X-Men ’97 oferece não apenas uma continuação para a série animada, mas também uma das melhores adaptações dos X-Men já produzidas. Inspirando-se em famosos arcos das HQs, o criador Beau DeMayo combina suas experiências pessoais com as experiências de uma geração para contar uma história tão épica quanto profundamente íntima.

Não se trata apenas da luta contra vilões super-poderosos, mas também das vidas pessoais desses personagens. Seus traumas, suas inseguranças, seus romances, seus arrependimentos e seus dramas familiares compõem um rico mosaico de pessoas que estão apenas tentando se sentir seguras em um mundo que lhes é, em grande parte, hostil. Mais que isso, essas pessoas precisam repetidamente salvar esse mundo da violência causada pelo medo e pelo ressentimento.

Os curtos episódios de X-Men ’97 obviamente não conseguem desenvolver todos esses elementos de forma extensa e detalhada, mas eles estão presentes e podem ser complementados pelo conhecimento que os fãs já possuem sobre esse universo. O foco aqui são os traumáticos eventos causados pelo vilão Bastion (Theo James) e como eles levam a equipe principal até o limite de sua humanidade.

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A trama também traz de volta alguns dos principais dilemas morais dos X-Men. A reação violenta que Magneto (Matthew Waterson) tem a um ataque genocida contra os mutantes trouxe de volta (dentro e fora da série) a ideia de que Magneto estava certo, justificando as medidas violentas que o vilão toma contra a intolerância vinda do restante da humanidade.

Porém, por mais que essa reação emocional seja humanamente compreensível, ela não oferece uma solução ética e duradoura para o problema da intolerância. Pior, ela materializa o risco de que os mutantes se tornem tão monstruosos (e tão medíocres) quanto os humanos que os oprimem. Ao querer subjugar ou exterminar todos os não-mutantes, Magneto apenas reproduz o que há de pior tanto na História quanto na natureza humana.

Em outra frente, X-Men ’97 traz de volta personagens como Ciclope (Ray Chase), Vampira (Lenore Zann), Tempestade (Alison Sealy-Smith), Gambit (A.J. LoCascio), Jean Grey (Jennifer Hale), Fera (George Buza), Noturno (Adrian Hough), Morfo (JP Karliak) e Jubileu (Holly Chou) de forma fiel e grandiosa, além das ótimas presenças de Bishop (Isaac Robinson-Smith) e Cable (Chris Potter). A trama se destaca por recuperar a imagem de Ciclope, líder operacional da equipe que foi tratado como personagem secundário na franquia cinematográfica.

Outro “bônus” é o fato de que a série dá a Vampira algumas oportunidades de mostrar o quão forte ela pode ser em algumas impiedosas batalhas. O mesmo vale para Magneto, que pode ser considerado o grande “centro gravitacional” dessa temporada. Já no caso de Jean Grey, uma breve (e conveniente) aparição da Força Fênix em toda sua glória e majestade é suficiente para explicar o porquê do filme X-Men: Fênix Negra não chegar nem perto de ser fiel à personagem.

Já Wolverine (Cal Dodd), que recebeu muito mais atenção no cinema e possui três filmes solo (por exemplo, o aclamado Logan), fica em segundo plano e cede espaço para seus colegas mais negligenciados. A boa notícia é que essa temporada o deixa em um ponto no qual ele poderá protagonizar algumas interessantes subtramas no futuro da série.

Enquanto mostra a fantasia de super-heróis travando batalhas épicas, X-Men ’97 também explora alguns dos aspectos mais sombrios da humanidade. Ao fim, os grandes vilões aqui são o medo e a intolerância que transformam algumas pessoas em monstros e desafiam a resiliência e a humanidade até dos mais benevolentes dos seres humanos. Há aqui uma luta contra uma escuridão que já fez inúmeras vítimas e que sempre ameaça o futuro da humanidade.