Crítica: Três Anúncios Para um Crime

Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, EUA/Reino Unido, 2017



Comédia dramática repleta de humor negro é um dos melhores filmes do ano

★★★★★


Três Anúncios Para um Crime é facilmente o melhor filme da carreira do diretor Martin McDonagh, o que, apesar deste ser apenas seu terceiro longa-metragem, não é pouca coisa. Se em Na Mira do Chefe e em Sete Psicopatas e um Shih Tzu ele leva o espectador à reflexão e ao riso por meio de pesadas piadas de humor negro, nesse novo trabalho essas características são apenas um bônus em um drama sincero, realista e sensível.

Sete meses após o brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (Frances McDormand) coloca três outdoors nos arredores de Ebbing, Missouri cobrando a ação da polícia. A mensagem é direcionada especificamente para o xerife Bill Willoughby (Woody Harrelson), que, além de ser amado e respeitado pela população, já tem lidar com outros sérios problemas em sua vida pessoal. Os anúncios despertam a ira da comunidade, especialmente a do fiel e impulsivo policial Dixon (Sam Rockwell), e causam um grande alvoroço tanto na mídia quanto no dia-a-dia da cidade.

A narrativa gira em torno dos três personagens citados, e são as fantásticas atuações do trio formado por McDormand, Harrelson e Rockwell que os tornam tão intensos quanto empáticos. Enquanto o Willoughby de Harrelson é quase um exemplo de maturidade e ponderação, Mildred e Dixon representam duas incontroláveis forças da natureza em rota de colisão. O arco narrativo maior de Três Anúncios Para um Crime trata de como esses personagens lidam com o luto, a culpa e a frustração.

Esta obra também se destaca quando levamos em conta a filmografia conjunta de Martin McDonagh e de seu irmão John Michael McDonagh, que lida basicamente com os mesmos temas e utiliza o mesmo impiedoso e corrosivo estilo de humor. Os seis longas dirigidos pelos dois diretores nos últimos dez anos (os de John Michael são o estupendo O Guarda, o ótimo Calvário e o mediano Guerra Contra Todos) representam um dos últimos refúgios do humor negro no cinema, sempre indo além do politicamente correto sem ser apenas estupidamente ofensivo.

Alguns dos principais motivos da superioridade de Três Anúncios Para um Crime em relação aos trabalhos anteriores do diretor são a significativa melhoria do ritmo narrativo e um melhor equilíbrio entre drama e comédia. As cenas aqui estão mais focadas em adiantar a trama do que em explorar a melancolia e o humor da situação, apesar de cenas assim ainda estarem presentes (como a conversa entre Mildred e o reverendo local). Além disso, se nos outros filmes o diretor lidava principalmente com caricatos tipos criminosos, aqui ele deixa a comédia emergir da disfunção de um pequeno e realista grupo de personagens de uma pequena cidade dos Estados Unidos.

O ótimo roteiro, também escrito pelo diretor, lida com temas como depressão, luto, suicídio, culpa, racismo e violência doméstica, sendo emocionante sem apelar para a manipulação emocional barata. O contraponto entre o descontrole de Mildred e o de Dixon acaba sendo menos um conflito e mais um espelho, na medida em que os dois não medem as consequências de suas explosões de raiva sobre as pessoas ao redor. Mais do que sobre o crime em si ou o trabalho da polícia, o filme trata da jornada de aprendizado e superação desses personagens, que estão quase completamente diferentes ao fim da projeção.

Com esse genial roteiro e atuações marcantes, Três Anúncios Para um Crime recebeu o prêmio máximo no Festival de Toronto e promete conseguir pelo menos algumas indicações ao Oscar 2018. Independente disso, essa é mais uma memorável obra de Martin McDonagh, que mais uma vez deixa o espectador querendo mais. Essa crítica diz: “esteja preparado para o melhor final de qualquer filme nessa década.”