Crítica: Slow Horses – 1ª Temporada
Slow Horses, Reino Unido/EUA, 2022
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★★★☆☆
As atuações de Gary Oldman e Kristin Scott Thomas causam a impressão de que Slow Horses é uma história de espionagem tão séria e inteligente quanto as de John Le Carré. Porém, todo o resto ao redor de seus personagens está mais no nível de um thriller televisivo descartável, mesmo sendo baseada em um best-seller de espionagem. A série até é bem divertida e funciona como um despretensioso passatempo, mas tanto a premissa quanto os personagens de Oldman e Scott Thomas indicam que a produção poderia ser muito mais.
Não é que Slow Horses seja tão fantasiosa quanto James Bond ou Killing Eve, mas sim que ela dá muito mais foco aos aspectos de ação e suspense do que nos aspectos dramáticos e políticos. A produção é ligeiramente superior a Spy City, mas jamais atinge as altas notas de séries como Condor ou Glória. Se tratada como um drama sombrio, mesmo sem abrir mão dos momentos de humor, a trama superaria todas essas outras. Porém, como um suspense de ação, a seriedade é deixada de lado e a intrigante história vai ficando cada vez mais previsível.
Além de Jackson Lamb (Oldman) e Diana Taverner (Scott Thomas), o outro personagem central é River Cartwright (Jack Lowden), um agente secreto impulsivo e inconsequente que faria mais sentido em thrillers de ação como Ascensão do Cisne Negro ou nas produções sobre o “analista” de inteligência Jack Ryan. Cartwright é um dos espiões alocados no prédio conhecido como Slough House, um adendo do MI5 que abriga agentes fracassados sob o comando de Lamb. Obviamente, esses agentes fracassados são colocados no centro da ação e precisam salvar o dia.
Conforme o esquema montado por Taverner vai sendo revelado, a história vai ficando cada vez mais superficial. Ao invés de focar nas implicações éticas, morais e judiciais de suas ações, a trama de Slow Horses prefere ir mais fundo no pequeno grupo de extremistas que realizou o sequestro que deu início à história. Há longas e desnecessárias cenas que servem apenas para realçar a estupidez dos sequestradores e o sofrimento do refém. Os diálogos entre os atrapalhados e paranoicos nacionalistas deveriam servir como alívio cômico, mas a dinâmica entre o mal-humorado Lamb e seus agentes já é engraçada o suficiente para aliviar a tensão.
Além disso, quando Cartwright e seus colegas entram em ação, o grupo lembra uma descrição que Le Carré fez sobre os espiões em um de seus mais famosos trabalhos: “servidores públicos brincando de cowboys e índios para dar algum brilho a suas pequenas e podres vidas”. De fato, a maior vantagem que os estúpidos sequestradores têm é a incompetência e a conivência do MI5. Claramente, a trama pretende fazer um comentário crítico sobre esse tipo de agência, mas é tudo tão corrido e apressado que nenhuma das reflexões mais sérias se sobressaem.
Dessa forma, Slow Horses acaba sendo apenas um divertido jogo de gato e rato entre Lamb e Taverner, com Cartwright e os demais provendo os momentos de humor e de corre-corre. A produção funciona muito bem como mero entretenimento, mas desperdiça a oportunidade de contar uma história mais sútil e humana, refletindo mais profundamente sobre algumas das grandes questões dos nossos tempos.