Crítica: Setembro 5

September 5, Alemanha/EUA, 2024



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


O ataque terrorista que ficou conhecido como o Massacre de Munique representa um dos momentos mais traumáticos do longo ciclo de violência do Conflito Israel-Palestina. Além das repercussões na geopolítica e nas táticas de policiamento, o evento também representou um divisor de águas na cobertura jornalística. É nesse último ponto que a trama de Setembro 5 está mais interessada.

setembro 5

O filme não conta a história do ataque terrorista em si, mas sim a história de como uma equipe jornalística cobriu o evento em tempo real para a rede de TV americana ABC.

No centro da trama estão Geoffrey Mason (John Magaro), Roone Arledge (Peter Sarsgaard) e Marvin Bader (Ben Chaplin), pessoas cujas decisões naquele fatídico dia afetaram não apenas a memória coletiva de centenas de milhões de pessoas, mas também os próprios eventos durante o ataque. Eles também tiveram que lidar com dilemas éticos relevantes até os dias atuais, tendo que decidir o que mostrar e o que não mostrar ao vivo na televisão.

A narrativa é quase inteiramente contida nos estúdios da ABC em Munique durante as Olimpíadas de 1972 e faz um extensivo uso de imagens de arquivo. A maioria das cenas que vemos do lado de fora do estúdio e do âncora Jim McKay são as imagens reais capturadas naquele dia, o que colabora significativamente para a imersão do público.

Dessa forma, tanto o espectador quanto os personagens possuem apenas as informações que vão chegando via rádio, telefone, rolos de filme e links ao vivo. Além de lembrar a abordagem de filmes que se passam durante uma série de telefonemas, isso também serve para realçar os aspectos técnicos dessa pioneira cobertura feita de forma inteiramente analógica.

Essa abordagem também faz Setembro 5 se aproximar de filmes como O Culpado e Buscando em termos de suspense e tensão, imergindo o espectador em um angustiante clima de medo e incerteza. Isso é válido mesmo para quem já conhece os detalhes e o desfecho do ataque terrorista ocorrido em 5 de setembro de 1972 na Vila Olímpica de Munique.

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Setembro 5 também realça um dos aspectos mais discutidos sobre o ataque: o despreparo da polícia alemã para lidar com a situação. Na época, praticamente não existiam equipes táticas de polícia ao redor do mundo. A cidade de Los Angeles já contava com a primeira unidade SWAT dos EUA, mas esse tipo de força era inexistente em outros lugares.

Já existiam unidades táticas em forças militares, como a SAS no Reino Unido e a Sayeret Matkal em Israel. Essa última foi oferecida para ajudar na situação, mas as autoridades alemãs não aceitaram e preferiram improvisar um ousado resgate em um aeroporto militar. Os reféns chegaram no aeroporto em dois helicópteros e, de acordo com o plano dos terroristas, seriam transferidos para um avião que os levaria para o Cairo.

Com policiais “bons de tiro” e sem treinamento atuando como franco-atiradores (snipers), a operação de resgate deu início ao um longo tiroteio, dando tempo para o terroristas executarem todos os reféns com rajadas de metralhadora e com uma granada dentro dos helicópteros.

Essa catástrofe em Munique levou a Alemanha a criar a unidade tática GSG 9, além de inspirar a criação de outras unidades táticas ao redor do mundo. A resposta israelense veio por meio da suposta operação Cólera de Deus, na qual um grupo de espiões israelenses assassinou os demais envolvidos no ataque em vários países europeus. As ações desse “esquadrão da morte” foram dramatizadas pelo diretor Steven Spielberg no filme Munique.

Dos personagens centrais de Setembro 5, apenas a tradutora Marianne (Leonie Benesch) é fictícia, servindo para representar o trabalho de vários tradutores alemães durante a cobertura. Já os personagens reais tiveram carreiras de grande sucesso, em grande parte devido à revolucionária cobertura que realizaram sobre esse terrível ataque.