Crítica: Segurança
Security, Itália, 2021
A trama de Segurança não oferece nada grandioso, mas é cativante o suficiente para justificar a produção
★★★☆☆
O caso de agressão no centro de Segurança serve para tirar o protagonista Roberto (Marco D’Amore) de seu estupor e levá-lo a realmente enxergar a realidade que se esconde sob a superfície da sua cidade e da sua família. Dono de uma empresa de segurança, ele já está acostumado a lidar com os chamados dos ricos clientes monitorados por suas câmeras, todos eles proprietários de belas mansões em Forte dei Marmi, uma cidade litorânea na Itália. Mas, como Roberto narra nos minutos iniciais, essa é uma história ambientada nos dias de inverno de um paraíso do verão.
Apesar de ser disparada pelo crime ocorrido, a trama de Segurança está muito mais interessada em apresentar a intricada rede de segredos e mentiras nas quais Roberto e sua família estão envolvidos. Em alguns momentos, o crime em questão fica tão longe do foco narrativo que o filme parece ter se transformado em uma novela, detalhando os dramas e as traições dentre os adultos e os adolescentes daquela privilegiada cidade turística. Felizmente, a história consegue se manter interessante mesmo nesses momentos.
A investigação em si é fruto da obsessão de Roberto com o ataque, cuja vítima, Maria Spezi (Beatrice Grannò), é filha de seu problemático ex-funcionário Walter (Tommaso Ragno), principal suspeito da agressão. Por possuir acesso livre às câmeras instaladas nas casas dos clientes, Roberto tenta reconstruir os eventos daquela noite, levando-o a fazer várias conexões com sua vida pessoal, envolvendo tanto sua filha, Angela (Ludovica Martino), quanto sua esposa, Claudia (Maya Sansa), que é candidata a prefeita da cidade. Como se isso não bastasse, até sua ex-namorada Elena (Valeria Bilello) é indiretamente envolvida na situação. Tudo isso parece ser muita coincidência, mas faz perfeito sentido em uma cidade pequena, como visto na minissérie Mare of Easttown (crítica aqui).
O estilo narrativo lembra filmes brasileiros como O Som ao Redor (resenha aqui) e Dente por Dente (crítica aqui), mostrando o cotidiano de pessoas comuns sob um ponto de vista de suspense e comentário social. Uma das coisas que Claudia oferece a seu eleitorado é proteção contra os imigrantes que estão “invadindo” o país. Enquanto isso, as ameaças internas que sempre existiram continuam sob a superfície, protegidas tanto pelo poder político quanto pelo poder econômico. Não parece ser por acidente que os “ameaçadores” imigrantes mencionados por Claudia jamais apareçam em tela, tornando-os menos concretos do que o medo que ela e seus ricos apoiadores têm deles.
Com seus muitos personagens e muitas conexões diretas e indiretas, a trama de Segurança provavelmente funciona melhor no romance no qual o filme foi baseado. Em tela, nem o suspense nem o drama se destacam, ainda que a combinação entre eles ofereça um resultado razoavelmente cativante. Não se trata aqui de grandes revelações ou de grandes reviravoltas sobre um caso de agressão, mas sim da jornada de um homem até aceitar as verdades que ele já sabia sobre sua própria vida, além de algumas reflexões sobre como o medo afeta as atitudes das pessoas.