Crítica: Resident Evil 6 – O Capítulo Final
Resident Evil: The Final Chapter, EUA, 2016
Filme mantém o (baixo) nível de qualidade da franquia
★★☆☆☆
No início desse último capítulo da saga Resident Evil, um autêntico clima de suspense e alguns bons sustos dão ao espectador a esperança de que o diretor Paul W. S. Anderson finalmente resolveu elevar o nível de sua franquia, se inspirando no clima de terror dos jogos eletrônicos no qual a obra é inspirada. Porém, não é esse o caso. Resident Evil 6 – O Capítulo Final entrega então uma série de cenas de ação tão alucinantes quanto mal costuradas por um arremedo de história, personagens descartáveis e péssimas atuações. É claro que isso é exatamente o que os fãs da franquia esperam, e eles não vão ficar decepcionados.
Nas já citadas cenas iniciais, ficamos sabendo que o movimento de resistência ao apocalipse zumbi montado por Wesker (Shawn Roberts) e apresentado nos momentos finais do filme anterior não passava de uma armadilha para atrair e matar a protagonista, Alice (Milla Jovovich), seguindo as ordens do dr. Isaacs (Iain Glen), que está vivo apesar de ter morrido no 3° filme da série. Se você não entendeu nada do que acabou de ler, não se preocupe, pois não será necessário e nada disso precisa fazer sentido. Inclusive, no didático momento “Nos episódios anteriores…”, o espectador é agraciado menos com uma recapitulação e mais com um flashback de eventos que ocorreram antes do primeiro filme. Isso efetivamente cria nova trama em torno da qual o filme atual irá girar, com direito à revelação da existência de uma cura praticamente mágica para o T-Vírus e à Alice recebendo uma improvável missão de ninguém menos que a Rainha Vermelha (agora interpretada por Ever Anderson, filha do diretor e de Jovovich, que são casados desde 2009). Mais uma vez, nada disso precisa fazer sentido.
O destaque do filme fica, é claro, com as cenas de ação. Dessa vez, elas estão melhor trabalhadas visualmente e não abusam da câmera lenta, como vários dos filmes anteriores o fizeram. Infelizmente, o excesso de câmera lenta é substituído por outros defeitos irritantes, a começar pela operação de câmera. É comum filmes de ação modernos fazerem um trabalho de câmera ágil e “sacudido”, dando ao espectador a impressão de que ele está dentro da ação. Aqui, entretanto, em alguns momentos o espectador fica com a impressão de que o operador de câmera está sofrendo convulsões. Combinando isso a uma edição que parece ter sido realizada por uma pessoa que estava assistindo algum outro filme ao mesmo tempo, o resultado fica abaixo do esperado. Isso não chega a arruinar essas cenas completamente, mas certamente desperdiça o potencial do que poderiam ser memoráveis cenas de ação.
O diretor falha também em tornar essas cenas menos tensas e mais divertidas, o que seria o caminho ideal para um filme como esse. Ao invés disso, o filme parece se levar a sério demais e pontua a ação com uma trilha sonora tensa e pesada, como se realmente houvesse algum peso dramático nelas. Um exemplo que poderia ser seguido é o do próprio trailer do filme, que, utilizando uma trilha sonora mais popular e animada, consegue empolgar o espectador mais do que qualquer uma das cenas de ação do produto final. Uma edição mais cuidadosa e muito rock’n roll poderiam ter salvo não apenas esse filme, mas toda a franquia. Apesar disso, as cenas de ação são boas o suficiente para entreter tanto os fãs da série quanto o espectador casual.
Apesar de tudo, esse pode ser considerado um dos melhores filmes da franquia, talvez o melhor deles. Seja pelos monstros de aparência realmente aterrorizante, seja pelas lutas (em sua maioria) bem coreografadas, seja pela ação dentro e sobre grandes carros blindados, seja por Alice derramando e acendendo milhares de litros de gasolina sobre hordas de zumbis, Resident Evil 6 – O Capítulo Final é uma grande bagunça que merece ser assistida (ao menos, por quem gosta do estilo) e que encerra dignamente a franquia (ainda que deixe aberta a possibilidade de continuações).