Crítica: Operação Lioness

Special Ops: Lioness, EUA, 2023



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★★★★☆


Se o roteirista Taylor Sheridan pretendia criar uma história no melhor estilo John Le Carré em Operação Lioness, ele acertou em cheio. A série de espionagem combina o estilo característico de Sheridan com uma trama que confronta os pontos de vista políticos e pessoais dos agentes e demais operadores envolvidos no suposto combate ao terrorismo. Enquanto as cenas de ação seguem impressionantes, o lado dramático nos lembra dos custos pessoais de uma “guerra” que nem sempre parece justificada.

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A premissa da série é extremamente familiar para quem já assistiu a duas minisséries adaptadas de obras do britânico Le Carré: A Garota do Tambor e O Gerente da Noite. Porém, Operação Lioness também inclui o estilo militarista que Sheridan já explorou em filmes como Sicário: Dia do Soldado e Sem Remorso, aumentando ainda mais o nível de adrenalina da produção.

Enquanto em A Garota do Tambor e O Gerente da Noite os serviços de inteligência de Israel e do Reino Unido recrutam civis para realizarem o trabalho de espionagem, em Operação Lioness a oficial da CIA Joe (Zoe Saldana) recruta a fuzileira naval Cruz Manuelos (Laysla de Oliveira) para se aproximar da filha de um alvo, Aaliyah (Stephanie Nur). O lado mais “Dia do Soldado” entra com o “time de reação rápida” (QRF – Quick Reaction Force) que faz a segurança dos agentes do programa Lioness e é liderada por Bobby (Jill Wagner).

Como em uma típica história de Le Carré, Cruz se envolve de forma mais pessoal do que deveria, fazendo com que a fronteira entre a ficção de seu disfarce e a realidade de suas emoções se torna incerta. Nos episódios finais dessa primeira temporada, a fuzileira precisa realizar ações que não correspondem aos seus sentimentos, tornando-se extremamente instável sob o ponto de vista de Joe e de sua chefe Kaitlyn Meade (Nicole Kidman). Essa dissonância cognitiva causada pelo trabalho infiltrado é explorada por Le Carré tanto em A Garota do Tambor quanto em várias outras de suas obras.

operação lioness 3

Além disso, a própria Joe possui conflitos internos. As missões a levam a negligenciar sua família, mas ela justifica isso acreditando que está fazendo um trabalho importante para tornar o mundo um lugar mais seguro. Porém, nem todos enxergam dessa forma. Existe a real possibilidade de que os benefícios que ela alcança no curto prazo são colocados em xeque pelas consequências de longo prazo de suas ações.

No fim das contas, talvez ela seja apenas uma funcionária pública que sacrifica sua via pessoal em prol de missões que não possuem o significado que ela imagina. Enquanto ela acha que está tornando o mundo um lugar mais seguro, na realidade ela está apenas mudando a dinâmica de poder entre os players de alto escalão da indústria do petróleo.

Uma prova disso é que, em determinado ponto de Operação Lioness, os líderes políticos na Casa Branca estão questionando se eles realmente querem eliminar o alvo no qual Joe e Cruz estão trabalhando. O diretor da CIA, Byron Westfield (Michael Kelly), chega a dizer que se eles não queriam que o “às de espadas” fosse eliminado, então eles deveriam tê-lo removido do baralho dos mais procurados. Esse “baralho” é obviamente inspirado no baralho dos mais procurados durante a Guerra do Iraque.

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Operação Lioness poderia ser apenas mais uma história de espionagem sobre uma agente infiltrada, mas Sheridan capricha no “tempero” em vários sentidos. Além do envolvente drama familiar vivido por Joe e do tórrido caso de amor vivido por Cruz, o roteirista imprime sua marca ao criar situações relativamente realistas que vão piorando de formas cada vez mais imprevisíveis. Antes da última crise terminar, a próxima já começa com força total, deixando o espectador tão desnorteado quanto os personagens.

Assim como as melhores histórias de espionagem, Operação Lioness não se limita a apenas narrar os acontecimentos e oferecer uma visão do “bem contra o mal”. O mundo da série é bem parecido com o mundo real, com redes de interesses muito mais complexas do que se pode imaginar se escondendo por trás de slogans políticos e de propostas simplistas para lidar com problemas altamente complexos. Enquanto isso, muitos dos soldados rasos acreditam estar no controle da situação.