Crítica: O Último Paraíso

L’Ultimo Paradiso, Itália, 2021



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★★★★☆


Nos primeiros quinze minutos de O Último Paraíso, fica claro que o protagonista Ciccio Paradiso (Riccardo Scamarcio), apesar de ser um pai de família, está tendo um caso com a filha do oligarca local e desafiando o poder econômico estabelecido. Ciccio é um sonhador, e parece incapaz de calcular as consequências de suas ações sobre as pessoas ao seu redor. Seu desejo é o de partir ao lado de Bianca Schettino (Gaia Bermani Amaral) e deixar para trás a mentalidade provinciana da Itália rural dos anos 1950.

Apesar de ser apresentado como um drama romântico, O Último Paraíso é leve no romance e pesado no melodrama. Felizmente, o filme consegue se manter relativamente imprevisível mesmo durante o seu trecho mais convencional, mostrando um Ciccio cada vez mais apaixonado e mais ousado. Porém, o ritmo do filme muda completamente na segunda metade, depois que uma grande reviravolta leva a certas revelações. A narrativa fica então mais calma e reflexiva, mergulhando ainda mais nas profundezas daquela cultura patriarcal.

Em um ambiente onde os homens detentores do poder econômico podem tudo e sempre saem impunes, Ciccio tenta alterar o status quo ao comprar a produção dos pequenos produtores locais por um preço justo. Isso se torna um problema para Cumpà Schettino (Antonio Gerardi), o maior produtor da região e prefeito do povoado. É aí que a trama de O Último Paraíso ganha contornos de luta de classes, mas esse é apenas um dos aspectos do conflito entre Ciccio e Schettino, que é o pai de Bianca.

É apenas uma questão de tempo até os primeiros episódios de violência ocorrerem, mas esse também não é o aspecto central do filme. Todas as peças apresentadas formam um retrato da vida e das relações familiares naquele ambiente, levando ao grande dilema que está diante do protagonista: ficar naquela terra e cuidar da família ou ir para a cidade grande para ter uma vida mais “avançada” e confortável? Se por um lado a oportunidade de vida nova parece imperdível, por outro há um senso de dever e lealdade em relação a sua família e às pessoas daquela região.

O dilema apresentado na segunda metade de O Último Paraíso faz com que o filme lembre a trama de Abril Despedaçado, inclusive nos aspectos trágicos e nos elementos de realismo mágico. Quase tudo o que havia de convencional na primeira metade é abandonado, levando a narrativa a passear por diversos lugares e situações ao lado do protagonista e de outros personagens, conduzindo-os até um improvável (ou, até mesmo, insólito) final.

Tudo isso faz com que O Último Paraíso subverta completamente as expectativas do espectador. A típica história de um amor proibido que se mistura com disputas políticas cede lugar para um melodrama bem mais disforme e imprevisível. Para quem estava contando com o básico, o filme pode ser uma decepção. Mas para quem embarcar na proposta, a trama oferece uma instigante viagem pelas vidas desses personagens e pelas belas paisagens de uma Itália bucólica e ancestral.