Crítica: O Salário do Medo
Le Salaire de la Peur, França, 2024
Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★☆☆
Apesar de não ter a ousadia e o refinamento das adaptações anteriores, essa nova versão de O Salário do Medo ainda consegue demonstrar o potencial da interessante premissa dessa história. Por mais que esteja longe de alcançar o trágico e poético pessimismo de O Salário do Medo (1953) e de O Comboio do Medo (1977), o novo filme ao menos serve como um convite para o espectador conferir esses outros dois clássicos.
Aqui, a jornada de Fred (Franck Gastambide), Gauthier (Sofiane Zermani), Alex (Alban Lenoir) e Clara (Ana Girardot) é apresentada no formato de um filme de ação genérico, com direito a heróis e vilões bem previsíveis. A viagem para transportar os instáveis explosivos que serão utilizados para controlar um incêndio em um poço de petróleo é marcada por vários tiroteios, durante os quais as balas dão um jeito de jamais atingir a volátil carga que está sendo transportada.
Para efeitos de comparação, O Comboio do Medo é apresentado muito mais como uma estressante e enlouquecedora viagem ao inferno para os quatro protagonistas. Nele, não há heróis, mas apenas “pecadores” motivados pela ganância e escondidos nas profundezas de uma pequena vila no meio de uma floresta da América do Sul.
Em O Comboio do Medo, há um assaltante americano que está se escondendo de mafiosos; um terrorista palestino que precisa sumir do mapa depois de um ataque mortal contra civis israelenses; um corrupto empresário francês que conseguiu escapar da justiça em seu país; e um assassino profissional enviado para matar um deles. Todos eles veem no serviço uma oportunidade de alcançarem seus objetivos e saírem daquele lugar.
Dessa forma, no filme de 1977, a viagem para o transporte dos explosivos é muito mais uma passagem pelo purgatório ou um castigo divino para os viajantes. Ao invés de salvação, o que eles encontram é uma poética e cruel punição pelos seus crimes. Os grandes vilões naquele filme são os próprios protagonistas e as escolhas que os levaram até aquela insalubre situação no meio de uma quente e hostil floresta tropical.
O Salário do Medo até consegue transmitir parte da tensão esperada, mas nunca nos níveis vistos nos filmes anteriores. Mesmo se não a compararmos aos clássicos, a produção ainda está mais próxima de outros recentes filmes de ação genéricos que se passam na estrada, como Missão Resgate, Abaixo de Zero e Bala Perdida. Assim, o que era para ser um tenso drama com elementos de humor negro, acaba sendo um filme de ação quase desprovido de personalidade.
Com uma edição mais cuidadosa e uma temática mais fiel à história original, O Salário do Medo até poderia ser comparado aos dois outros filmes. Há até algumas ideias interessantes aqui, como o relacionamento entre os irmãos Fred e Alex, mas nada que se aproxime da profundidade (ou mesmo do humor negro) dos outros roteiros. O que resta não é nada mais do que um bom e esquecível filme de ação, ideal para passar o tempo com uma quantidade moderada de tensão.