Crítica: O Dia do Chacal – 1ª Temporada

The Day of the Jackal, Reino Unido, 2024



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★★★☆☆


Muitas pessoas irão considerar que O Dia do Chacal é uma das melhores séries do ano. Porém, para muitos dos fãs do clássico filme de 1973, a série representa uma grande oportunidade perdida. A modernização da história quase funciona bem, mas ela vem acompanhada de uma bagagem extra que diminui o impacto da narrativa e do personagem central. A série deixa de lado o “espírito” do filme e tenta ser algo completamente diferente. Esse “algo diferente” não é necessariamente ruim, apenas não é o O Dia do Chacal que muitos – como eu – esperavam.

o dia do chacal

Em primeiro lugar, é preciso entender a natureza do filme de 1973. Mesmo com mais de duas horas de duração, a narrativa era ágil, precisa e econômica. Assim como o assassino profissional no centro da trama, o filme não perdia tempo com detalhes desnecessários e só mostrava o que precisava mostrar. Era uma envolvente história sobre disciplina, determinação e resiliência, com um protagonista que era muito menos uma pessoa e muito mais uma “entidade” solitária, enigmática e elusiva.

O primeiro sinal negativo dado pela série é o fato de que ela possui dez episódios. Para preencher essas muitas horas de duração, os roteiros precisam incluir inúmeros desvios, como subtramas desnecessárias, dramas de família e discussões de relacionamento. Para piorar, os personagens precisam cometer inúmeros erros para que a trama seja alongada. Os acontecimentos centrais estão todos presentes, mas a demora para chegar até eles é quase dolorosa.

Os erros cometidos colocam em xeque a caracterização do Chacal (Eddie Redmayne). Aqui, ele está muito mais próximo do protagonista do filme O Assassino, que é um matador profissional que se considera frio e competente, mas que na realidade é emotivo e até mesmo atrapalhado. Ao invés da “entidade” solitária e misteriosa do filme original, essa nova versão é um pai de família que vive uma vida dupla e cujo passado é parcialmente explicado por meio de flashbacks, o que tira boa parte do mistério.

O fato de que em determinado ponto nós estamos assistindo à festa de aniversário do filho do Chacal chega a ser bizarro, assim como o momento no qual o temível assassino internacional é sequestrado por um fazendeiro. O mesmo vale para sua grande opositora, a agente do MI6 Bianca Pullman (Lashana Lynch). Sua representação como uma especialista obcecada e quase inescrupulosa é uma mudança até interessante, mas as várias subtramas nas quais ela se envolve e seus maçantes dramas de família chegam a ficar repetitivos a partir de determinado ponto.

Os episódios de O Dia do Chacal também gastam um tempo considerável no bilionário Ulle Dag Charles (Khalid Abdalla), conhecido como UDC, que é o grande alvo do Chacal nessa nova versão. Sua subtrama, que também inclui discussões de relacionamento, é a mais ilógica da série. Ele é apresentado como um “bilionário do bem” que está preocupado com a injustiça social e cujo projeto de transparência financeira desperta a ira de outros bilionários.

Mesmo se tudo isso fizesse sentido e o projeto de transparência fosse tão “revolucionário” assim, os bilionários insatisfeitos teriam formas muito mais eficazes de evitar o lançamento da ferramenta, como vias legais, diplomáticas ou mesmo por meio da opinião pública. Além disso, se a solução realmente fosse assassinar UDC, fazer isso de forma pública e violenta seria a pior ideia possível, pois na prática manteria a relevância do assunto no ciclo de notícias.

Fica claro que a escrita de O Dia do Chacal tenta ser altamente inteligente e sofisticada, mas o resultado não impressiona. Uma série que fez isso com sucesso foi Condor, trama cuja primeira temporada adapta a história do filme Três Dias do Condor sem perder a essência política e paranoica do original. Novas subtramas também são adicionadas, mas todas elas servem à temática central e não se desviam em dramas desnecessários. Até o questionável filme O Chacal, de 1997, faz uma adaptação mais tematicamente precisa do material.

Com ótimas cenas de ação (especialmente nos dois últimos episódios), uma produção refinada e atuações de primeira linha, O Dia do Chacal tinha tudo para ser um novo clássico do gênero. Existe aqui uma ótima minissérie de seis capítulos, mas os realizadores preferiram priorizar a quantidade em detrimento da brevidade. A trama deixa, inclusive, vários ganchos para uma já confirmada segunda temporada, o que deve alongar ainda mais uma narrativa que deveria ser direta, intensa e inesquecível.