Crítica: O Culpado

The Guilty, EUA, 2021



Apesar desse remake não ser justificável, O Culpado é tão bom quanto o filme original

★★★★☆


A boa notícia é que O Culpado é tão bom quanto o filme original, o dinamarquês Culpa. Porém, os dois filmes são tão parecidos que quem assistir a um não precisa assistir ao outro. Em grande parte, esse remake americano só se justifica para quem não assistiu ao original ou para quem estiver muito interessado em mais uma fantástica atuação de Jake Gyllenhaal, que é a atração principal aqui. Fora isso, há algumas pequenas diferenças na história, mas nada tão significativo a ponto de mudar o resultado final.

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Os dois filmes mostram uma trama de alta tensão que é narrada inteiramente sob o ponto de vista de um policial que está temporariamente alocado na central de atendimento de chamadas de emergência. No caso de O Culpado, esse policial é o esquentado detetive Joe Baylor (Gyllenhaal), que está no turno noturno da central. Sua rotina muda quando ele atende a uma chamada de Emily Lighton (Riley Keough), uma mulher que foi aparentemente sequestrada e que finge estar falando com sua filha pequena para não alertar o sequestrador.

Uma vez que se passa inteiramente na central de atendimento, Joe é um dos poucos personagens que aparecem em tela. Assim como ele, o espectador apenas escuta a voz das outras pessoas envolvidas na trama, o que funciona muito bem para a imersão no suspense. Tanto o público quanto o protagonista precisam utilizar a imaginação para tentar entender o que está acontecendo do outro lado da linha. Isso facilita a empatia com o personagem, já que quem está assistindo fica quase tão frustrado e desesperado quanto ele.

Uma vantagem que O Culpado tem em relação ao original é que os eventos e as reviravoltas presentes na trama fazem mais sentido na violenta realidade dos EUA do que na tranquilidade da Dinamarca (o que também pode ser dito sobre o filme dinamarquês Loucos Por Justiça). Segundo dados oficiais, em 2018, a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes nos EUA foi de 4,96 (total de 16.214 assassinatos), enquanto na Dinamarca foi de 1,01 (total de 52 assassinatos). Já em termos de mortes pela polícia no mesmo ano, os EUA tiveram um total de 1.603, enquanto a Dinamarca não teve esse tipo de ocorrência. No Brasil, a taxa de assassinatos em 2018 foi de 27,38 (total de 57.358 assassinatos), enquanto o número de mortes pela polícia foi de 6.160.

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O Culpado também consegue ser mais intenso do que Oxigênio (crítica aqui), outro filme da Netflix que se passa inteiramente em um espaço limitado e no qual a protagonista depende de ligações telefônicas para interagir com outros personagens. É claro que a situação em Oxigênio é muito mais limitada e muito mais dependente de mecanismos narrativos típicos de histórias de ficção científica, o que acaba prejudicando um pouco essa outra produção.

Não são todos os espectadores que vão embarcar no show de atuação de Jake Gyllenhaal, mas os que conseguirem vão ser recompensados com um suspense de roer as unhas e com um drama de partir o coração. Em determinado ponto, a realidade dos personagens de O Culpado é completamente destruída e eles precisam reavaliar todas as certezas que eles tinham e todas as escolhas que eles fizeram em suas vidas. Esse não é um filme sobre fazer a coisa certa, mas sim sobre arcar com as consequências de ter feito algo errado.