Crítica: O Contador 2

The Accountant 2, EUA, 2025

Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆

A narrativa de O Contador 2 continua tão irregular quanto a do primeiro filme, mas isso não muda o fato de que a produção funciona bem tanto como thriller de ação quanto como comédia dramática. Intercalando cenas de violência quase extrema com momentos genuinamente tocantes ou hilários, a trama deve deixar o espectador com um sorriso no rosto e talvez olhos marejados quando os créditos finais começarem a rolar. Não chega a ser nada inesquecível, mas o resultado são duas envolventes horas de humor, ação e emoção.

O Contador 2 está longe de ser uma injeção de adrenalina no nível de um Ambulância, por exemplo, mas compensa isso com um desenvolvimento de personagens surpreendentemente efetivo. O filme poderia muito bem ser um emocionante drama sobre o reencontro e a reconexão entre os irmãos Chris Wolff (Ben Affleck) e Braxton (Jon Bernthal), o que poderia resultar em algo no nível de um A Qualquer Custo. Porém, o roteiro de Bill Dubuque, que também foi responsável por O Contador, mais uma vez exagera na quantidade de elementos e subtramas.

Assim, o filme passa tanto por cenas de ação de tirar o fôlego quanto por momentos mais calmos e intimistas, além de divertidos momentos de comédia. A química e as atuações entre Affleck e Bernthal garantem um considerável peso dramático aos momentos nos quais eles estão em tela. Especificamente, a qualidade dramática garante um certo nível de autenticidade na representação das dificuldades que Braxton encontra tanto para expressar seus sentimentos quanto para se conectar emocionalmente com o irmão.

O autismo de Chris certamente é um obstáculo, mas é possível perceber que os irmãos teriam dificuldades para se expressar mesmo sem essa condição complicando a situação. Esse aspecto revela as consequências da infância que tiveram com uma mãe ausente e um pai militar e paranoico. O pai fez o máximo possível para torná-los homens durões, mas não para torná-los emocionalmente maduros e bem desenvolvidos. Consequentemente, tanto Chris quanto Braxton “trabalham” no submundo do crime.

Para eles, a violência não apenas é algo ordinário, mas também é uma das poucas formas com as quais eles conseguem dar vazão a seus sentimentos mais intensos. Enquanto ficam perfeitamente confortáveis um com o outro, eles são desconcertantes e assustadores para pessoas normais. Incrivelmente, Chris é o menos isolado dos dois, já que conta com um pequeno grupo de pessoas autistas dando-lhe suporte tecnológico durante suas “missões”.

A representação do autismo no filme pode ser considerada razoavelmente válida quando mostra as interações sociais de Chris, mas ainda é altamente dependente de estereótipos que escondem as verdadeiras dificuldades enfrentadas por pessoas (ou pelos pais de crianças) com diferentes níveis de autismo. O principal desses estereótipos explorado em O Contador 2 é o mito da superdotação em matemática ou outras ciências exatas, já que todos os autistas mostrados no filme são prodígios com números ou com tecnologias. Isso também ocorre em filmes como Rain Man e Código para o Inferno.

Já o lado mais sombrio da trama lida com questões de tráfico humano, chegando a lembrar filmes como 7 Prisioneiros e Som da Liberdade, ou mesmo o recente thriller de ação Resgate Implacável. Os momentos mais perturbadores invocam um problema da vida real: o desaparecimento de pessoas e o uso de valas comuns para esconder assassinatos em massa no México. Esses realmente são os métodos utilizados pelos cartéis de drogas mexicanos e por outras formas de crime organizado que atuam no país.

Apesar da exagerada história por trás do passado da assassina profissional Anaïs (Daniella Pineda), a trama de O Contador 2 não tenta ser mais inteligente do que precisa ser. A narrativa só deve desagradar quem esperava um clima consistentemente sério e sombrio nesse thriller de ação. Porém, o filme conta inclusive com uma engraçadíssima cena de dança em um bar de música country, contrastando severamente com o nível de crueldade que os personagens iriam enfrentar no ato final.