Crítica: O Céu da Meia-Noite

The Midnight Sky, EUA, 2020



Filme serve como um resumo de vários outros dramas de sobrevivência, demorando para encontrar a própria voz

★★☆☆☆


O que tira boa parte do impacto de O Céu da Meia-Noite é o fato de que o ator e diretor George Clooney depende de desenvolvimentos muito familiares e previsíveis para tentar criar alguma tensão narrativa. Quando o filme finalmente encontra a própria voz e apresenta um drama relativamente original, o espectador já teve que suportar 90 minutos de acontecimentos que não apenas eram previsíveis mas que também adicionaram muito pouco para a temática principal.

Para piorar, o filme é composto por duas tramas que poderiam muito bem ser dois filmes diferentes. Na primeira, o doutor Augustine Lofthouse (George Clooney), acompanhado da pequena Iris (Caoilinn Springall), precisa encontrar uma forma de avisar aos tripulantes da espaçonave Aether de que o retorno para a Terra não é seguro. Na segunda, os tripulantes da Aether tentam reestabelecer a comunicação perdida com a base de comando há várias semanas, o que fica a cargo da astronauta Sully (Felicity Jones). Infelizmente, é apenas quando Lofthouse e Sully estabelecem uma comunicação estável que o drama principal realmente começa.

Até lá, o espectador precisa passar por duas grandes histórias de sobrevivência fantasticamente previsíveis. Enquanto Lofthouse e Iris precisam se aventurar pelo inóspito território do Ártico para chegar a uma antena capaz de alcançar a Aether, os astronautas precisam enfrentar diversos problemas para reestabelecer a comunicação do lado deles. Os desafios encontrados são comuns a filmes como A Perseguição, Gravidade, Interestelar, Perdido em Marte, Ártico (2018) e Ad Astra: Rumo às Estrelas (crítica aqui). Porém, é possível que o espectador que não assistiu à maioria desses filmes encontre novidades suficientemente satisfatórias em O Céu da Meia-Noite.

Se as jornadas no gelo e no espaço tivessem sido encurtadas e ocorrido sem maiores problemas, Clooney poderia se concentrar no desenvolvimento dos personagens e do drama principal, que lida com o fato de a humanidade está encarando a real possibilidade da própria extinção. Os detalhes da catástrofe que está tornando o ar do planeta tóxico jamais são inteiramente revelados e nem precisam ser, pois o importante é o efeito que ela tem sobre as vidas de Lofthouse e da tripulação da Aether. De repente, eles ficam diante de escolhas que envolvem não apenas a própria sobrevivência, mas também a sobrevivência de toda a espécie.

O diretor até tenta dar alguma profundidade ao protagonista por meio de flashbacks, mas eles servem apenas para preparar uma grande e previsível revelação que é feita nos momentos finais da projeção. Basicamente, todas as surpresas aqui já ocorreram nos filmes citados anteriormente. Tanto os problemas enfrentados durante a caminhada no gelo quanto aqueles que aparecem durante uma caminhada espacial são perfeitamente (quase comicamente) previsíveis, servindo apenas para adiar a conclusão e prolongar a duração do filme.

Como dito anteriormente, O Céu da Meia-Noite deve agradar quem não assistiu aos filmes de sobrevivência lançados na última década, mas é bem previsível para quem já conhece esse tipo de história. Para esses, talvez compense assistir aos primeiros 40 minutos e já pular para os 30 minutos finais, que é onde as novidades realmente começam a aparecer e o drama começa a funcionar.