Crítica: Morte Morte Morte
Bodies Bodies Bodies, EUA, 2022
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★☆☆
Quando a história termina, Morte Morte Morte deixa a impressão de ser um episódio de Black Mirror com tecnologias e comportamentos que já existem e que já fazem parte do nosso dia a dia. Se isso é bom ou ruim, fica a critério do espectador. Independente disso, o final se encaixa muito bem com o restante da trama, que é uma divertida sátira sobre uma geração que provavelmente está passando tempo demais online, como é evidenciado no documentário O Dilema das Redes.
Durante a passagem de um furacão, um grupo de amigos se junta na mansão de um deles, mas a situação vai gradualmente saindo de controle. Antes mesmo das mortes começarem, a representação feita da Geração Z já é divertida o suficiente para justificar o filme. Quando os corpos começam a se acumular, a diversão está em ver esse grupo de personagens tentando tomar decisões de vida ou morte enquanto se esforçam para não dizer nada que possa ser considerado politicamente incorreto.
Enquanto algumas das gerações passadas se comportavam como rolos compressores emocionais e ninguém se via obrigado a se importar com os sentimentos de ninguém, as gerações atuais pecam pelo excesso e tentam se importar com os sentimentos de todo mundo o tempo todo. O resultado disso são impasses lógicos/verbais nos quais não é possível discordar de nenhum dos lados, de forma que nenhuma opinião pode ser formada e nenhuma ação pode ser tomada.
Esse tipo de impasse é explorado no satírico programa de entrevistas Ziwe, no qual a apresentadora faz uso do baiting para colocar seus convidados em situações nas quais as respostas possíveis podem ser interpretadas como “problemáticas” sob algum ponto de vista. Na maioria das vezes, os convidados dão respostas evasivas ou desprovidas de conteúdo, sempre com medo de suas falas serem tiradas de contexto e interpretadas como ofensivas.
Algo semelhante ocorre em Morte Morte Morte, com os personagens tentando descobrir quem dentre eles é um assassino enquanto se preocupam em jamais dizer nada que possa ser interpretado como ofensivo. Não demora até eles começarem a acusar uns aos outros de práticas como ghosting, gaslighting e silenciamento, ou de estarem lhes causando gatilhos. Não é que esses termos não sejam sérios, mas em muitas situações eles são utilizados de forma tão banal e leviana que acabam perdendo parte de seu peso e de seus significados.
Vale lembrar que esses são jovens privilegiados que tentam se considerar como parte de grupos desprivilegiados, seja por questões sociais, raciais ou de saúde mental, e usam isso para justificar suas atitudes negativas. Eles lembram os protagonistas da série Search Party, que é uma produção que satiriza tanto a Geração Z quanto os Millennials, mostrando as consequências do narcisismo típico da juventude nessas gerações mais recentes. No caso de Morte Morte Morte, o virtue signaling vem acompanhado do consumo de uma rica variedade de drogas legais e ilegais.
No geral, a vibe de Morte Morte Morte é muito menos Pânico e muito mais Tucker e Dale Contra o Mal. O filme funciona muito bem como comédia e até tem seus bons momentos de tensão e terror, além de ter uma ótima cinematografia. Porém, diante do nível de pretensão e afetação das personalidades envolvidas, a conclusão é relativamente previsível, além de não explorar todo o potencial da premissa de um “slasher da Geração Z”.