Crítica: Morbius
Morbius, EUA, 2022
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★☆☆
As reações extremamente negativas a Morbius fazem parecer que a produção é uma completa catástrofe, quando na verdade ela é apenas mais um exemplar genérico no subgênero dos filmes de super-heróis. O apressado e previsível roteiro abraça todos os clichês e parece ter sido escrito com a intenção explícita de atingir um resultado mediano. Ainda assim, esse mesmo roteiro consegue capturar a essência do personagem título e o coloca na tela grande de forma minimamente respeitosa, especialmente na representação das tragédias e dilemas de Michael Morbius (Jared Leto).
Com um roteiro desprovido de sutilezas e pesado nos diálogos expositivos, é um milagre que os dramas de Morbius e de seu amigo Loxias Crown (Matt Smith) consigam algum espaço para respirar. Mas mesmo em uma trama que segue a toque de caixa para cobrir a maior quantidade de clichês possíveis, as atuações de Leto e Smith conseguem transmitir as angustias e os ressentimentos de dois homens marcados por vidas limitadas, durante as quais eles sempre tiveram que lidar com a iminência de suas mortes.
Além disso, as questões que estão no centro do conflito de Morbius não são relativas a dinheiro ou poder, mas sim a ética e moralidade. Por mais que sejam grandes amigos e sofram da mesma doença degenerativa, Morbius e Crown levaram vidas bem diferentes, o que os leva a ter reações opostas quando uma cura é finalmente encontrada. Diante dos efeitos colaterais “vampirescos”, Morbius se preocupa com o bem-estar das pessoas que ele pode vir a machucar, enquanto Crown vê nisso apenas uma oportunidade de viver tudo aquilo o que ele não pôde viver antes, sem regras e sem limites.
É graças a essa dinâmica que o filme consegue capturar o cerne do personagem, apesar de haver algumas alterações. Nos quadrinhos, é o Homem-Aranha que é a voz da razão, enquanto Morbius recorre a métodos tão desesperados quanto questionáveis para tentar reverter sua condição. No filme, Morbius mantém seu lado anti-herói, enquanto as características vilanescas são quase completamente transferidas para Crown, que se mostra um completo sociopata. Obviamente, essa não é uma adaptação ideal, mas é uma maneira interessante de trazer o personagem para o cinema sem “incomodar” o badaladíssimo Homem-Aranha.
Morbius também faz um trabalho razoável na representação dos poderes dos personagens. Por mais que esse seja mais um festival de efeitos especiais sobre a tela verde, é um festival intrigante e visualmente estimulante. Se feitos sem maiores cuidados, os poderes de Morbius poderiam ficar bem ridículos na tela grande, mas o filme evita isso adicionando mais “fumaça e espelhos” às cenas de ação. O resultado não é perfeito, mas também não é ofensivamente ruim.
No geral, Morbius parece ser uma grande “prova de conceito”, mostrando que seria realmente possível trazer o personagem para o mundo live action de forma épica e grandiosa. Com um roteiro mais desenvolvido e algumas melhorias nos efeitos visuais e na edição, esse poderia ser um grande filme de super-herói, especialmente graças às ótimas atuações centrais. Porém, a Sony ainda está obcecada com a ideia de construir uma mega-franquia, mais uma vez preparando o terreno para o Sexteto Sinistro, o que a deixa incapaz de se concentrar apenas em fazer bons filmes.