Crítica – Longlegs: Vínculo Mortal

Longlegs, EUA, 2024



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Talvez Longlegs: Vínculo Mortal não apresente lá tantas novidades em relação ao subgênero do terror satânico, mas a combinação de estilos e influências feita pelo diretor Osgood Perkins é digna de nota. Indo além, o grande destaque da produção é uma narrativa que não perde tempo com longas introduções e que jamais permite que o espectador relaxe. A partir do momento no qual a cena inicial nos apresenta ao personagem-título, a tensão jamais é completamente aliviada até o início dos créditos finais.

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Com a novata agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe) e seu mentor Carter (Blair Underwood) perseguindo um serial killer, Longlegs parece ser apenas mais um filme de serial killer inspirado em O Silêncio dos Inocentes, categoria que já pode ser considerada seu próprio subgênero cinematográfico. Há tanto exemplares com mais de vinte anos de idade, como O Colecionador de Ossos, quanto exemplares do ano passado, como Sede Assassina. Porém, esse novo exemplar rapidamente nos faz perceber que a trama possui pontos em comum com clássicos como O Bebê de Rosemary e Coração Satânico.

E há ainda mais elementos familiares na trama. Se filmes como a A Bruxa, Sob a Sombra e Demon tentam materializar medos profundos e folclóricos existentes nas grandes religiões monoteístas, Longlegs (que é ambientado na década de 1990) tenta referenciar o medo do diabo que causou uma grande onda de pânico moral na década de 1980. Na época, pais preocupados acusavam os novos nomes do rock’n’roll (principalmente do glam rock) de estarem influenciando satanicamente a juventude dos Estados Unidos.

É por isso que Perkins utiliza visuais e letras da banda T. Rex como uma das camadas de sua inquietante narrativa, com direito ao sucesso Bang a Gong embalando os créditos finais. O visual dessas e de outras estrelas do glam rock também inspira a aterradora caracterização de Nicolas Cage como Longlegs, resultando em mais uma inesquecível e perturbadora performance do ator, nos moldes de seu trabalho em Mandy: Sede de Vingança.

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Ainda assim, é a paciente e meticulosa narrativa de Longlegs que leva o material a um outro patamar. Combinando truques típicos de filmes de suspense com truques típicos de filmes de terror, o diretor cria uma atmosfera tão imersiva quanto opressora para o espectador. Enquanto os planos em terceira pessoa nos colocam nas mesmas situações que a protagonista, os planos mais amplos destacam o isolamento dela em relação ao restante do mundo.

Essa narrativa se move de forma deliberadamente lenta, permitindo que o espectador absorva ao máximo toda a tensão e preencha com a própria imaginação tudo o que não é mostrado (o que lembra a série Arquivo 81). A tensão só arrefece um pouco quando a trama começa a explicar em detalhes a real natureza das ações de Longlegs, recorrendo a flashbacks e a uma narrativa extremamente didáticos, o que prejudica o clima de suspense. Felizmente, esse momento passa rapidamente e o filme parte para os momentos finais, que são tão previsíveis quanto aterradores.

Em Longlegs: Vínculo Mortal, o diretor Osgood Perkins atinge um certo grau de excelência narrativa e aperfeiçoa o terror satânico que ele havia começado em A Enviada do Mal. Há no centro dos dois filmes uma temática bem particular, que poderia ser melhor desenvolvida: a solidão. Nas duas tramas, pessoas que são ou que se sentem abandonadas são “amparadas” por entidades malignas que as levam a cometer crimes chocantes. Talvez as tramas ficariam demasiadamente prolixas se fossem mais fundo nessa direção, mas a temática está inegavelmente presente.

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