Crítica: Landman – 1ª Temporada

Landman, EUA, 2024



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★★★★☆


Em Landman, o criador Taylor Sheridan leva o estilo que ele consagrou em Yellowstone para os campos de petróleo do oeste do Texas. O clima de novela é ocasionalmente interrompido por momentos de suspense e ação que chegam sem aviso prévio e que, de repente, transformam a narrativa em um thriller. Assim como em suas outras séries, Sheridan também utiliza a trama para apresentar as diversas realidades e pontos de vista desse mundo específico.

landman tommy

O landman do título é Tommy Norris (Billy Bob Thornton), um capataz e gerente geral de operações para a petroleira independente (e fictícia) M-Tex. Enquanto seu chefe e presidente da empresa Monty Miller (Jon Hamm) toma as decisões estratégicas e financeiras, é Tommy quem gerencia o dia a dia da extração de petróleo por meio das bombas de cabeça de cavalo. É ele quem lida com a contratação dos trabalhadores e com qualquer ameaça à produção, o que torna seu trabalho extremamente perigoso.

Tommy e Monty também servem como “porta-vozes” para algumas das ideias que Sheridan quer compartilhar aqui. Um monólogo de Tommy no terceiro episódio chegou a fazer sucesso nas mídias sociais entre o público que se opõe às medidas para contenção do aquecimento global. A questão chegou a gerar esforços de checagem de fatos na mídia, que tenta mostrar que as afirmações feitas por Tommy sobre a inviabilidade do uso de fontes alternativas de energia são altamente exageradas.

Um grande problema desse tipo de discórdia é que o cidadão comum não tem como avaliar a qualidade de nenhuma das informações. Enquanto pesquisadores do clima tentam alertar para uma catástrofe anunciada, há evidências de que grandes petroleiras já investiram esforços para espalhar dúvidas e prejudicar o consenso científico sobre o tema. As ferramentas utilizadas são notícias falsas ou tendenciosas, além da contratação de acadêmicos de baixa relevância para discordar das pesquisas bem fundamentadas.

O que é inquestionável na fala específica de Tommy é que não é tão fácil assim mudar toda a matriz energética do planeta. Nós passamos os últimos 150 anos desenvolvendo tecnologias e criando infraestruturas altamente dependentes de combustíveis fósseis. Mesmo se as empresas de energia estivessem realmente interessadas em uma transição (e há evidências de que elas não estão), a viabilidade do processo ainda seria bem questionável.

Porém, ao invés de se falar sobre a viabilidade da transição energética, é mais interessante falar sobre a viabilidade da vida humana na Terra se a atual trajetória climática não for corrigida. Não é que a humanidade seria extinta, mas os sobreviventes teriam que lidar com uma situação altamente precária. Por exemplo, um colapso da agricultura como a conhecemos, que é dependente de ciclos climáticos existentes há milhares de anos (veja o exemplo dos preços do azeite de oliva), colocaria em jogo a viabilidade das nossas civilizações.

landman rebecca and tommy

Landman também provocou alguma polêmica em relação à forma que representa as personagens Angela (Ali Larter) e Ainsley (Michelle Randolph), ex-esposa e filha adolescente de Tommy, respectivamente. Elas são superficiais, interesseiras e hipersexualizadas, o que atraiu críticas de parte do público. Na superfície, essa abordagem parece misógina e machista, mas ela é justificada no contexto geral das séries e filmes de Sheridan.

Se todas as mulheres da série fossem mostradas dessa forma, essa representação certamente seria problemática. Porém, há alguns contrapontos na trama, como a agressiva advogada Rebecca (Kayla Wallace), que é a “Beth Dutton” de Landman. Indo além, todas as outras séries de Sheridan contam com mulheres fortes e independentes, com diferentes tipos de objetivos e prioridades. O principal exemplo é Operação Lioness, uma série de espionagem com viés militarista que mostra diferentes tipos de mulheres no comando e no centro da ação.

Dessa forma, Angela e Ainsley complementam um universo cinematográfico que, aparentemente, pretende representar diversos tipos de mulheres reais, sem fazer julgamentos e sem negar suas humanidades. As duas personagens de Landman não servem apenas para deixar os espectadores desconfortáveis, mas passam por suas próprias jornadas dramáticas. Não é que elas se tornem algo diferente para se encaixarem em algum padrão defendido por algum campo ideológico, mas sim que suas ações e personalidades não as invalidam como seres humanos.

landman

Landman ainda conta com a surpreendente subtrama de Cooper (Jacob Lofland), filho de Tommy e Angela. Mesmo sendo filho do chefe e tendo planos para se tornar um barão do petróleo, ele prefere abandonar a faculdade e continuar seu aprendizado no “chão da fábrica”, ao lado dos trabalhadores braçais que se arriscam diariamente e que garantem que a extração continue ocorrendo 24h por dia. O que ninguém poderia imaginar é que isso o levaria a um improvável e problemático romance com a jovem viúva Ariana (Paulina Chávez).

No mais, Sheridan utiliza Landman para expor as muitas variáveis envolvidas na exploração do petróleo, sejam os pormenores do dia a dia dos trabalhadores, os complexos cálculos financeiros necessários para manter o negócio lucrativo ou os conflitos com os cartéis mexicanos de tráfico de drogas.

Um cartel, representado pelo comandante local Jimenez (Alex Meraz), é o principal antagonista nessa primeira temporada. Desde o início, a série traça inúmeros paralelos entre o mundo da exploração dos combustíveis fósseis e o mundo do tráfico de drogas. A ideia geral é: tanto os cartéis quanto as petrolíferas fornecem produtos tão nocivos quanto lucrativos para uma clientela altamente dependente e que não consegue abandonar o vício.

Se comparada com as outras produções criadas por Sheridan, Landman não preza pela originalidade, já que é basicamente uma Yellowstone transferida para o mundo do petróleo. Ainda assim, esse mundo e esses novos personagens são interessantes o suficiente não apenas para justificar a produção, mas também para deixar os espectadores curiosos e ansiosos pela próxima temporada.