Crítica: John Wick 4 – Baba Yaga

John Wick: Chapter 4, EUA, 2023



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★★★★☆


Cada filme de John Wick (Keanu Reeves) nos deixa com a impressão de que é impossível o diretor Chad Stahelski se superar no capítulo seguinte, mas isso é o que ele sempre faz. John Wick 4: Baba Yaga acerta em todos os aspectos nos quais John Wick 3 acertou e ainda expande a narrativa para dar um final digno à franquia. O que pode ser dito em detrimento da produção é que suas quase três horas de duração podem ser bem cansativas para o espectador, por mais que elas sejam muito bem preenchidas com ação, humor e mitologia.

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Em meio a visuais que continuam impressionantemente estilosos, a trama pode ser dividida (ou assistida) em três grandes partes (ou sequências de ação): o massacre em Osaka, o jogo de cartas em Berlim e a caçada em Paris. Nos intervalos entre elas, as peças são movidas no tabuleiro e Wick precisa derrotar estrategicamente o homem que a Alta Cúpula encarregou de matá-lo. O Marquês de Grammont (Bill Skarsgård) parece contar com recursos infinitos para garantir a morte não apenas do homem mas também da lenda de John Wick.

Em Osaka, os destaques são Hiroyuki Sanada e Donnie Yen interpretando personagens tão icônicos quanto os dois atores. A invasão do Hotel Continental da cidade também serve para introduzir os principais antagonistas desse capítulo. Enquanto Yen interpreta um excêntrico assassino cego, Wick e seus aliados também precisam enfrentar os eficientes e eficazes Chidi (Marko Zaror) e o Senhor Ninguém (Shamier Anderson), um misterioso assassino e rastreador.

De maneiras diferentes, esses dois últimos personagens roubam as cenas nas quais estão presentes. Chidi é apresentado como uma rápida e implacável máquina de matar, utilizando movimentos e estilos de luta hipnotizantes para o espectador. Já o Senhor Ninguém tem uma ambígua relação com Wick, não ficando claro se ele é um possível aliado ou apenas mais um dos antagonistas, o que lembra a introdução da personagem Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) em Missão Impossível: Nação Secreta. Acompanhado de seu fiel cachorro, o Senhor Ninguém também é responsável por alguns dos melhores momentos de humor de John Wick 4.

Outro personagem memorável é o gangster Killa (Scott Adkins), que inicia um tenso jogo de cartas em Berlim, resultando em uma das grandes sequências de ação do filme. Com um Scott Adkins irreconhecível, o vilão lembra um típico vilão do universo de Batman, misturando os estilos do Coringa de Jared Letto em Esquadrão Suicida e do Pinguim de Colin Farrel no mais recente Batman. Para a surpresa de todos, o personagem dá bastante trabalho para Wick, que precisa derrotá-lo para seguir para a próxima fase.

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Os momentos mais divertidos de John Wick 4 estão no ato final, quando uma alucinante caçada tem início nas movimentadas ruas de Paris. Ainda que a cena ao redor do Arco do Triunfo não funcione tão bem quanto poderia, a narrativa se recupera durante um intenso tiroteio em uma casa em reforma (envolvendo uma exagerada escopeta com munição incendiária) e as frustradas tentativas de Wick em subir as escadarias da Basílica do Sagrado Coração. Essas sequências lembram grandes momentos de filmes como 007: Sem Tempo Para Morrer e Agente Oculto.

A trama desse capítulo final também se mantém fiel às temáticas dos filmes anteriores. Por mais que se apresente como uma história sobre vingança, os roteiros sempre refletem sobre regras e consequências. No primeiro filme, a busca de Wick por vingança serve como uma implacável manifestação das consequências dos atos do filho de um mafioso. Nos filmes seguintes, é Wick quem precisa lidar com as consequências de suas ações, se colocando em situações cada vez mais complicadas ao desafiar as regras e a autoridade da Alta Cúpula.

A mensagem final é que nem John Wick e nem a Alta Cúpula estão acima das consequências. E essa mensagem é entregue por meio de uma inesquecível opera de ação e violência que ressalta o trabalho dos muitos dublês e de outros profissionais que viabilizam as empolgantes cenas do cinema de ação. Assim como os filmes anteriores, John Wick 4: Baba Yaga já surge como um novo clássico do gênero e como uma nova referência tanto em termos de ação quanto em termos de mitologia.