Crítica: Infiltrado
Wrath of Man, EUA/Reino Unido, 2021
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A simples premissa que o diretor Guy Ritchie tirou do filme francês Assalto ao Carro Forte é ampliada em várias direções em Infiltrado. Apesar de jamais dar muita profundidade aos personagens, Ritchie consegue compor um pequeno épico de ação em apenas duas horas. O que faz o filme se destacar em relação a outros veículos de ação estrelados por Jason Statham é uma história bem desenvolvida e uma narrativa mais envolvente, dividida em quatro capítulos que são apresentados fora da ordem cronológica.
O primeiro capítulo mostra a contratação de H (Statham) pela empresa de transporte de valores Fortico e a impressão que ele deixa depois de reagir violentamente a um assalto. A identidade e as motivações do protagonista são reveladas no capítulo seguinte, que mostra os brutais eventos que o levaram a trabalhar na empresa. Esse dois capítulos apresentam Infiltrado como um típico filme de vingança, deixando um intrigante mistério no ar: quem exatamente são os assaltantes procurados por H?
Nos capítulos seguintes, essa pergunta é respondida com tantos detalhes que os assaltante quase se tornam os protagonistas, transformando a segunda metade da produção em um típico filme de assalto. O terceiro capítulo revela os assaltantes e mostra os eventos passados sob o ponto de vista deles, enquanto o quarto mostra o planejamento e a execução de um roubo final, colocando-os em rota de colisão com H.
Como filme sobre assaltos, Infiltrado funciona tão bem que supera as boas tentativas realizadas em Polícia em Poder da Máfia e Covil de Ladrões, tanto em termos de ação quanto de desenvolvimento da história. O que esses filmes tentavam alcançar era a grandeza e a profundidade de produções como Fogo Contra Fogo e Atração Perigosa, mas a falta de inspiração os deixou para trás. Se Infiltrado não alcança esses novos clássicos do gênero, é porque esse não era o objetivo de Ritchie, que está mais interessado na ação e no estilo do que no desenvolvimento de personagens. Nas mãos de um Michael Mann ou Ben Affleck, que são os diretores dos filmes citados, o roteiro de Infiltrado poderia resultar em um voo ainda mais ousado.
Em menor grau, o filme também lembra produções como Bronx (crítica aqui) e As Viúvas (crítica aqui), especialmente quando adota o ponto de vista dos assaltantes.
Tudo isso faz com que Infiltrado ocupe uma posição única na filmografia de Ritchie, pois a produção não pode ser diretamente comparada com nenhum dos trabalhos anteriores do diretor. Os que mais se aproximam são os filmes de Sherlock Holmes estrelados por Robert Downey Jr. e o filme de espionagem O Agente da U.N.C.L.E., todos eles comédias de ação. Há alguma semelhança com Revólver, que também foi estrelado por Statham, mas sem as pretensões dramáticas e filosóficas daquele filme. O que pode ser categoricamente afirmado é que esse é um trabalho bem diferente do subgênero que lançou as carreiras de Ritchie e Statham, e que o diretor revisitou recentemente em Magnatas do Crime (crítica aqui).
Além da história e da narrativa envolventes, Infiltrado também não decepciona em termos de ação, que sempre é “temperada” com altos níveis de tensão. A combinação de todos esses elementos tornam a produção uma experiência imersiva, da qual o espectador não vai querer sair até H alcançar seu objetivo. Do outro lado, o público também é agraciado com uma ótima atuação de Scott Eastwood, que interpreta um vilão digno dos faroestes estrelados por seu pai.