Crítica: Homem-Aranha – Através do Aranhaverso
Spider-Man: Across the Spider-Verse, EUA, 2023
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Quem espera que Homem-Aranha: Através do Aranhaverso seja um mega-espetáculo de cores, ação e animação não irá se decepcionar. O filme parece comprometido com a missão de superar tanto as inovações visuais quanto a profundidade emocional de Homem-Aranha no Aranhaverso. Porém, quem espera que a produção conte uma história completa, com uma grande conclusão, pode ficar um pouco frustrado.
Mesmo Vingadores: Guerra Infinita, filme que conta a primeira metade de uma grande história, termina com sua própria conclusão, com um dos lados saindo vencedor da “guerra” do título. Já Através do Aranhaverso é interrompido no meio da história, depois de uma chocante revelação. O cliffhanger pode incomodar seriamente o espectador que esperava que o filme de duas horas e vinte minutos de duração apresentasse uma trama com início, meio e fim.
Mesmo com essa desvantagem no ato final, Através do Aranhaverso ainda é capaz de se igualar ao primeiro filme com Miles Morales (Shameik Moore) como Homem-Aranha. Uma parte do sucesso dessa continuação pode ser creditada a um maior desenvolvimento da Mulher-Aranha de Gwen Stacy/Spider-Gwen (Hailee Steinfeld), que protagoniza a produção ao lado de Morales. Com as muitas possibilidades abertas pelo multiverso, seria um desperdício explorar a profundidade dramática de uma única versão do personagem.
Se Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa aproveitou o conceito de multiverso para dar um grande presente para os fãs do Homem-Aranha no cinema, Através do Aranhaverso dá um grande presente para os fãs do Homem-Aranha em todas as mídias possíveis. Além de trazer o Homem-Aranha 2099/Miguel O’Hara (Oscar Isaac) e a Mulher-Aranha/Jessica Drew (Issa Rae) para o primeiro plano, há ótimas participações do Aranha Escarlate/Ben Reilly (Andy Samberg) e do Homem-Aranha indiano Pavitr Prabhakar (Karan Soni).
Há também rápidas participações/aparições das versões do herói de séries animadas (como O Espetacular Homem-Aranha e Homem-Aranha: Ação Sem Limites) e dos jogos de vídeo games (como o Spider-Man do PS1 e o mais recente Marvel’s Spider-Man). Mas os maiores presenteados ainda são os fãs dos quadrinhos, graças aos estilos de animação que imitam os traços, as cores e as impressões típicas da mídia e as combinam com outras fontes de inspiração. Os maiores exemplos disso são as colagens e serigrafia do Punk-Aranha (Daniel Kaluuya) e o traço esboçado de uma versão renascentista do Abutre (Jorma Taccone).
No melhor estilo Homem-Aranha, o grande vilão de Através do Aranhaverso é apresentado de forma ridícula e bem humorada, se tornando um perigo realmente ameaçador ao longo da trama. O Mancha/Jonathan Ohnn (Jason Schwartzman) é um vilão pouco conhecido nos quadrinhos, mas sua capacidade de abrir portais interdimensionais o torna ideal para uma trama que explora o multiverso.
Nesse filme, apesar de suas ações manterem a trama em movimento e sua origem ser rapidamente apresentada, ele não tem lá um grande desenvolvimento. O personagem acaba se encaixando no estereótipo de “vilão enfurecido que quer se vingar do Homem-Aranha”, que, em suma, é o principal tipo de vilão com o qual herói teve que lidar nos quadrinhos, no cinema e na TV.
Espera-se que alguma profundidade seja adicionada a ele no próximo filme, o já anunciado Homem-Aranha: Além do Aranhaverso. Além do Mancha, Morales também terá que enfrentar a oposição de alguns Homens-Aranha do multiverso e de um possível inimigo extremamente “pessoal” que é apresentado nos últimos instantes de Através do Aranhaverso. Dessa forma, o filme não termina com uma grande conclusão, mas sim com a promessa de uma grande conclusão no próximo capítulo.
Talvez Através do Aranhaverso se torne ainda mais satisfatório depois que sua grande conclusão seja lançada em março de 2024. Por enquanto, seu grande espetáculo visual, sua trama emocionalmente ressonante e seu festival de easter eggs devem ser mais do que o suficiente para manter os velhos e os novos fãs do Cabeça de Teia bem “alimentados”.