Crítica: Godzilla – Minus One

Godzilla: Minus One, Japão, 2023



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Com um lado dramático muito bem desenvolvido, Godzilla: Minus One volta às origens do monstro gigante e nos lembra de todo o impacto emocional que filmes como esse podem ter. Enquanto nas recentes versões americanas o destaque vai para o espetáculo de ação e destruição, aqui o destaque está nos dramas humanos e nos traumas nacionais vividos pelos japoneses no período do pós-guerra. Graças a isso, as aparições de Godzilla provocam muito menos deslumbre e muito mais ansiedade e terror.

godzilla minus one 2Esse não é um filme sobre um monstro gigante destruindo cidades japonesas, mas sim sobre a jornada de um personagem e de uma população para superar os próprios traumas. Para o ex-piloto Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), a Segunda Guerra Mundial ainda não acabou. Os pesos de suas escolhas e de seus fracassos durante o conflito ainda não permitem que ele siga em frente e foque em seu futuro e em sua felicidade.

O Japão ocupado no qual ele vive ao lado de Noriko (Minami Hamabe) é marcado por uma frágil estrutura social e pela desconfiança em relação às autoridades, tanto as japonesas quanto as americanas. Enquanto as forças armadas japonesas utilizaram as vidas de seus pilotos como recursos descartáveis nas unidades kamikaze, os americanos foram responsáveis pelo bombardeio de cidades japonesas e pelos ataques atômicos que custaram as vidas de centenas de milhares de pessoas.

Dessa forma, o “sopro atômico” de Godzilla em Minus One é muito mais aterrorizador do que em filmes como Godzilla II: Rei dos Monstros, no qual é utilizado como um superpoder. Aqui, o feixe de energia que o monstro solta pela boca resulta em uma imagem absolutamente aterrorizante: uma explosão nuclear em uma área urbana, seguida de uma nuvem em formato de cogumelo. Esse é um motivos pelos quais, em um Japão que parecia estar na estaca zero, a chegada de Godzilla leva o país à estaca “menos um”.

A chegada do monstro também materializa os traumas de Shikishima e o dá uma nova oportunidade de acabar com o sofrimento do povo japonês. Uma vez que as forças Aliadas estão mais preocupadas com a Guerra Fria e proíbem o governo japonês de dar uma resposta militar, fica a cargo de Shikishima e de outros voluntários tentarem lidar com a criatura sem envolver as forças armadas convencionais.

godzilla minus one

Sendo assim, o esforço para conter Godzilla fica a cargo de ex-militares, cientistas e indústrias privadas. Ao invés de seguirem as ordens suicidas de superiores ou de defenderem ideologias nacionalistas e imperialistas, esses voluntários se unem para defender e valorizar as vidas dos cidadãos comuns. Diante disso, ao invés de agirem sob alguma forma de pulsão de morte, suas ações são muito mais uma afirmação da vida e da esperança em um futuro melhor.

Uma vez que aborda todos esses temas, Godzilla: Minus One acaba servindo como complemento para a história de Oppenheimer, filme que mostra o contexto científico e geopolítico que levou um grupo de cientistas a criar os “monstros nucleares” que seriam utilizados contra a população japonesa.

Lembrando filmes como Tubarão e O Hospedeiro, Godzilla: Minus One é mais um ótimo exemplar da mistura de drama com suspense e terror de tirarem o fôlego. A produção também nos lembra que a mensagem do Godzilla original, no qual o monstro servia como uma metáfora para a ameaça de um apocalipse nuclear, continua perfeitamente relevante. Por mais que ele seja um lagarto gigante fictício, o “sopro atômico” de Godzilla e as ideologias que o viabilizaram continuam sendo uma ameaça para o futuro da humanidade.