Crítica: Glass Onion – Um Mistério Knives Out
Glass Onion: A Knives Out Mystery, EUA, 2022
Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Em Glass Onion: Um Mistério Knives Out, se nada é o que parece ser, é porque a realidade é muito mais simples do que parece. Em Entre Facas e Segredos, o diretor e roteirista Rian Johnson subverteu o gênero do mistério de detetive ao revelar o autor (ou “um autor”) do crime ainda na primeira metade da trama. Nessa continuação, a subversão está nas camadas que ele adiciona à história e vai lentamente removendo conforme a narrativa avança para o grande final.
A “cebola de vidro” do título não é apenas a excêntrica construção na ilha privada do bilionário Miles Bron (Edward Norton), mas também a metáfora que serve tanto para a trama quanto para os personagens de Glass Onion. Conforme a descrição do renomado detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), uma cebola de vidro é algo que parece ter várias camadas de complexidade até se chegar ao seu centro, mas que na realidade não esconde nada. O centro está o tempo todo em plena vista, bastando olhar da forma certa para se enxergar o que está “escondido”.
Além de Bron, personagens como Birdie Jay (Kate Hudson), Duke Cody (Dave Bautista), Whiskey (Madelyn Cline), Claire Debella (Kathryn Hahn) e Lionel Toussaint (Leslie Odom Jr.) estão sempre projetando imagens que não correspondem às realidades de suas situações. Eles se consideram grandes “disruptores”, quando na verdade são apenas dependentes dos recursos e da influência do amigo bilionário. O próprio Bron é o maior exemplo disso, com sua imagem de visionário e genial servindo como uma máscara para sua mediocridade.
Uma das poucas personagens que realmente possuem algo escondido em seu interior é Andi Brand (Janelle Monáe), que, a partir de determinado ponto, substitui a personagem de Ana de Armas no filme original como ajudante de Blanc. Monáe aproveita a oportunidade para dar um show à parte na produção, tornando sua personagem quase tão memorável quanto sua contraparte no primeiro filme. A atriz já havia mostrado talento para histórias de mistério na segunda temporada de Homecoming, e aqui ela repete a dose com resultados tão satisfatórios quanto os da série.
Todos esses personagens possuem motivos para querer Miles Bron morto, inclusive Peg (Jessica Henwick), uma personagem que não se encaixa no padrão da “cebola de vidro” e serve apenas como contraponto para evidenciar a estupidez de Birdie.
O primeiro ato de Glass Onion chega a ser preocupante, pois a trama dá sinais de que está indo nas direções mais óbvias possíveis. Porém, uma vez que a primeira morte é mostrada, a coisa toda vira de cabeça para baixo e a primeira camada da história começa a ser “descascada”. Daí em diante, a produção se torna uma divertida máquina de plot twists, ficando cada vez mais imprevisível até os momentos finais.
Como continuação, Glass Onion segue muito mais o estilo do que a fórmula do filme original. A trama é uma história de detetive, mas também é um quebra-cabeça apresentado fora de ordem e sob diferentes pontos de vista. Se no primeiro filme Blanc tem dificuldades porque o plano do vilão realmente é complexo e engenhoso, dessa vez ele só demora para entender quem é o culpado porque os eventos que ele precisa desvendar são desconcertantemente simples.
Quando Johnson levou a franquia Knives Out para a Netflix, o acordo feito garantia a produção de mais dois filmes, e Glass Onion é o primeiro dentre eles. Se o próximo conseguir manter os níveis de qualidade e diversão, espera-se que o diretor tenha ainda mais ideias para tramas com Benoit Blanc, pois nós não vamos nos cansar tão cedo desse tipo de história.