Crítica – Duna: A Profecia – 1ª Temporada
Dune: Prophecy, EUA, 2024
Max · Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Por não ser uma história inspirada em temas medievais, dificilmente Duna: A Profecia vai conseguir conquistar o mesmo grau de sucesso de Game of Thrones ou mesmo de A Casa do Dragão. Os jogos de poder e vários outros elementos claramente tentam atrair o mesmo tipo de público, mas os aspectos de ficção científica não são tão populares assim. Pelo menos, os fãs de ficção científica e do universo de Duna em específico são presenteados com uma envolvente trama, ainda que algumas ressalvas possam ser feitas sobre a sua temática.
Ambientada dez mil anos antes da história dos filmes Duna e Duna: Parte 2, Duna: A Profecia mostra uma humanidade que já depende da especiaria para as viagens interestelares e que ainda está traumatizada pela terrível guerra contra uma poderosa inteligência artificial. Essa guerra, que terminou oitenta anos antes do início da trama da série, levou ao banimento de todas as tecnologias digitais, com o uso das “máquinas pensantes” se tornando um tabu na sociedade.
É nesse ambiente que uma irmandade de mulheres se estabelece como um poder religioso por trás das grandes casas do império. Lideradas pela Reverenda Madre Superiora Valya Harkonnen (Emily Watson) com o auxílio de sua irmã Tula Harkonnen (Olivia Williams), elas exercem uma crescente influência não apenas sobre quem ocupa o trono do império mas também sobre as linhagens genealógicas das grandes casas, forjando alianças estratégicas para garantir o futuro da civilização de acordo com seus próprios termos e critérios.
Porém, a narrativa de Duna: A Profecia não vai tão fundo no aspecto religioso da trama. O poder da irmandade, que é uma precursora da ordem das Bene Gesserit, parece ser muito mais político do que religioso. A atuação delas como conselheiras e “proclamadoras da verdade” (basicamente, detectoras de mentiras) está muito mais ligada a o quão úteis elas podem ser do que a qualquer tipo de reverência religiosa.
Dessa forma, a série mostra a religião apenas como uma ferramenta de poder, e jamais como uma genuína manifestação de fé e espiritualidade. A trama poderia mostrar a diferença em como a religião é vista nos corredores do poder e como ela é vista pelos fiéis que a consideram uma verdade absoluta e inquestionável. Isso é feito em Duna: Parte 2, filme que expõe como uma profecia pode ser tanto uma fonte de esperança para uma massa desesperada quanto uma ferramenta de manipulação para as facções políticas que estão disputando o poder.
O poder da irmandade é posto em xeque pela chegada do misterioso Desmond Hart (Travis Fimmel), um soldado do império que possui habilidades inexplicáveis e que rapidamente conquista a confiança do imperador Javicco Corrino (Mark Strong). Seu objetivo principal é extinguir a influência da irmandade sobre o império, mas a real natureza das suas motivações e a identidade da facção que está por trás dele ainda são mistérios.
Desmond interrompe os planos da irmandade de conquistar completamente a princesa Ynez Corrino (Sarah-Sofie Boussnina), o que lhes garantiria uma imperatriz que também é uma irmã da ordem. Em meio a tudo isso, Duna: A Profecia também introduz vários outros personagens e subtramas, além de explorar outros aspectos do lore de Duna (Bene Tleilax, Dançarinos Faciais, Outra Memória, etc.), enriquecendo a história com detalhes quase dignos de Game of Thrones. Vale lembrar que foram os livros de Duna que influenciaram Game of Thrones, e não o contrário.
O centro gravitacional de Duna: A Profecia é a Madre Superiora Valya, personagem cujas motivações são reveladas por meio de flashbacks. Ambiciosa e ressentida pela redução do status de sua família, ela se mostra uma força hipnotizante de se assistir, ainda que suas ações sejam as ações de uma vilã. Com ótimas atuações de Emily Watson e Jessica Barden interpretando duas versões da personagem, seu arco dramático é sem dúvidas o mais envolvente da trama.
Apesar das ótimas cenas de ação e das intrigas palacianas, Duna: A Profecia não possui as características necessárias para conquistar espectadores casuais e se tornar um grande fenômeno de audiência. O mais provável é que a trama tenha um sucesso mais próximo de Raised by Wolves, série que tem uma fiel legião de fãs mas que nunca caiu nas graças do público em geral.