Crítica: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Doctor Strange in the Multiverse of Madness, EUA, 2022
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
No fim das contas, o filme que todo mundo precisa assistir antes de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é Arrasta-me Para o Inferno, uma das grandes obras de terrir do diretor Sam Raimi. Felizmente, o MCU permite que Raimi se divirta com espíritos amaldiçoados, possessões quase demoníacas, zumbis e outros tipos de terror nesse estranho episódio do MCU. Talvez seria até mais apropriado que o filme se chamasse Drag me to the Multiverse, ou, em bom português, Arrasta-me para o Multiverso.
Quando a Feiticeira Escarlate/Wanda Maximoff (Elisabeth Olsen) foi mostrada lendo o Darkhold em uma das cenas pós-créditos de WandaVision, muita gente já sabia que aquele era um péssimo sinal. Porém, os fãs esperavam que a querida e trágica personagem não seria completamente corrompida por ele. Diante disso, vou me limitar a dizer que em Multiverso da Loucura ela se mostra corrompida o suficiente para dar muito trabalho a mais de um Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) e a alguns dos personagens mais poderosos do universo Marvel.
É bem provável que muitos espectadores prefiram ver Wanda como uma anti-heroína, mas o fato é que ela é uma ótima vilã. Sua Feiticeira Escarlate é tudo o que a Jean Grey de X-Men: Fênix Negra deveria ter sido, apesar de seus poderes também não serem levados aos mesmos extremos que nos quadrinhos. Nesse sentido, algo que pode incomodar alguns fãs é o nível de inconsistência nos poderes da personagem, que em uma mesma cena derrota um personagem extremamente poderoso de forma rápida e eficaz mas passa vários minutos tentando derrotar um dos menos poderosos. Porém, isso está longe de ser uma novidade nos filmes de super-heróis.
Talvez o que seja tão chocante na Wanda de Multiverso da Loucura é que não há uma “preparação” para ela. A “preparação” é o fato de que a audiência já sabe (ou deveria saber) que ela passou um certo tempo estudando o Darkhold. Isso faz com que o filme não tenha uma verdadeira introdução. De repente, nós somos jogados na vida de America Chavez (Xochitl Gomez) enquanto ela é perseguida por seres interdimensionais e vai parar na Terra-616, universo do nosso Doutor Estranho. Para protegê-la, o personagem recruta Wanda Maximoff, e é aí que as coisas realmente começam a sair do controle.
Tudo isso ocorre em um ritmo frenético, com ação e visuais alucinantes o suficiente para deixar o espectador tonto e confuso durante o primeiro ato da história. A depender do ponto de vista, toda essa velocidade pode ser muito boa (por ir direto ao ponto e não estender o tempo de duração) ou muito ruim (por não ambientar o espectador antes da ação e das grandes revelações começarem). O que é certo é que graças a isso Multiverso da Loucura está longe de ter toda a profundidade emocional que deveria ou gostaria de ter.
As cenas mais dramáticas de Wanda só funcionam graças ao que sabemos de antemão sobre a trajetória da personagem, além da sempre intensa atuação de Olsen. Já os dramas vividos pelo Doutor Estranho e por America Chavez dependem quase que inteiramente das atuações de Cumberbatch e Gomez, pois o roteiro não lhes faz grandes favores em termos de desenvolvimento e profundidade. Claramente, a história foi pensada para ser uma grande aventura de ação, e não um épico que equilibra ação e emoção.
O filme também se destaca por suas participações especiais. Ao contrário de outras produções recentes do MCU, as participações aqui não são meros easter eggs. Os icônicos personagens realmente possuem uma função na história e protagonizam grandes cenas de batalha. Além disso, o fato de que eles são versões alternativas de personagens que já apareceram ou aparecerão na Terra-616 permite que nem todos eles sobrevivam aos combates. Nesse ponto, Raimi mais uma vez deixa a sua marca, mostrando algumas das mortes mais violentas dessa franquia cinematográfica.
Vale notar que as versões dos personagens que aparecem aqui não são as mesmas que apareceram em What If…?, que era o que muitos fãs (eu incluso) esperavam. A ótima série animada mostrou várias possibilidades e introduziu a primeira aventura multiversal do MCU, mas aparentemente seus personagens devem ficar apenas por lá mesmo.
Por fim, apesar de passar por vários universos, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura não tem a mesma magnitude de um Homem-Aranha: Sem Volta para Casa ou de um Capitão América: Guerra Civil, que é o nível de expectativa que muitos fãs tinham. Ainda assim, Multiverso da Loucura está, no mínimo, no mesmo nível que os divertidos e inovadores (para os padrões do MCU) Thor: Ragnarok e Homem-Aranha: Longe de Casa, com um tempero especial fornecido pelos alucinantes visuais e pela direção de Raimi.