Crítica: Deadpool & Wolverine
Deadpool & Wolverine, EUA, 2024
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A boa e a má notícia sobre Deadpool & Wolverine é que essa é mais uma divertida e descompromissada comédia de ação do MCU. Essa notícia é ruim para quem esperava que a produção traria esse universo cinematográfico de volta para sua épica grandiosidade. Porém, além de seguir na mesma linha que Deadpool e Deadpool 2, o novo filme está mais próximo das produções mais recentes da Marvel Studios.
Aparentemente, o que parte do público esperava era um mega-evento, algo que mudaria tudo no MCU. Porém, a trama de Deadpool & Wolverine não é nada mais do que uma desculpa para Ryan Reynolds e companhia entregar fantásticas cenas de ação, ótimas piadas, easter eggs, fan service e uma imensa quantidade de referências ao passado da Marvel no cinema. De certa forma, esse filme é uma grande homenagem a esse passado, seja em termos do que aconteceu ou do que poderia ter acontecido.
Sendo assim, as muitas participações especiais fazem com que o filme lembre muito mais o bem-intencionado The Flash do que o épico e aclamado Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. São participações que fazem a diferença, mas que não estão realmente no centro da trama, lembrando um pouco das grandes “aparições” presentes em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
Ao contrário do vilão Kang (Jonathan Majors), apresentado em Quantumania, os vilões Paradox (Matthew Macfadyen) e Cassandra Nova (Emma Corrin) não mudam nada na escala de poder do MCU. Aqui, suas ações servem apenas para manter Deadpool/Wade Wilson (Reynolds) e Wolverine/Logan (Hugh Jackman) em movimento e justificar as grandes quantidades de fan service presentes na produção.
Nesse sentido, a trama faz um ótimo uso do lore introduzido em Loki, colocando o TVA (Autoridade de Variância Temporal, em português) e a paisagem desolada do fim dos tempos em primeiro plano. Essa paisagem dá a oportunidade para que o filme faça referências implícitas e explícitas à Furiosa: Uma Saga Mad Max, filme lançado há apenas dois meses. É possível que os realizadores achavam que Furiosa seria um grande sucesso de público, mas não foi bem esse o caso.
Deadpool & Wolverine funciona exatamente como uma história de Deadpool deveria funcionar, com o caos e a insanidade ao longo da trama conduzindo à apenas mais caos e insanidade nos momentos finais. Não há aqui nenhum cliffhanger, nenhum vilão escondido nas sombras, nenhuma grande equipe de super-heróis sendo apresentada e nem mais dez anos de narrativa sendo preparada. O que há são mortes extremamente violentas e um nível de humor negro que pode surpreender parte do público.
A principal diferença entre esse e os outros filmes de Deadpool é a presença de luxo de Wolverine, trazendo para as telas uma combinação que sempre foi sucesso nos quadrinhos. Porém, depois dos eventos de Logan, a versão de Wolverine presente aqui não poderia ser a mesma dos filmes anteriores, levando os roteiristas a “puxarem” um Logan alternativo do multiverso.
Apesar do personagem ser apresentado em toda sua brutalidade e mal humor, o desenvolvimento desse Wolverine fica aquém do ideal. Ao invés de mostrar de forma clara o peso do trauma carregado por ele, a trama se limita a repetir várias vezes que ele decepcionou as pessoas de seu universo e é considerado o pior Wolverine do multiverso. Essa limitação evita que seu lado da narrativa tenha todo o peso dramático necessário para realmente contrapor a falta de seriedade de Deadpool, que era o que acontecia nos quadrinhos.
Felizmente, o que falta em seriedade sobra em sucessos da música pop e em batalhas de super-heróis que sempre quisemos ver em live action. Além dos inevitáveis e sangrentos embates entre Deadpool e Wolverine, há vários outros personagens e embates icônicos presentes no filme. A produção faz referência tanto a super-heróis que estão há aproximadamente vinte anos sem aparecer nas telas quanto à escalações de atores que nunca se concretizaram.
A pior coisa que o espectador pode fazer é querer levar Deadpool & Wolverine a sério demais. Apesar de também funcionar como um filme dos X-Men, a trama está muito mais interessada em divertir e em trazer de volta um nostálgico passado cinematográfico, chegando a lembrar a abordagem do filme Jogador Nº 1. Para quem quiser um outro tipo de história dos X-Men, a série X-Men ’97 é a melhor aposta em 2024.