Crítica – Capitão América: Admirável Mundo Novo
Captain America: Brave New World, EUA, 2025
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Não é que Capitão América: Admirável Mundo Novo seja um ótimo thriller político, mas a produção é bem-sucedida em combinar os elementos desse subgênero com o mundo de fantasia e ficção científica do MCU. Além de seguir a fórmula dos filmes anteriores do Capitão América, essa nova aventura consegue reconectar o universo compartilhado, amarrando algumas das pontas soltas deixadas em alguns dos últimos filmes.
Mas é preciso voltar um pouco mais para entender o contexto dessa nova versão do personagem.
Em Capitão América: O Primeiro Vingador, um franzino Steve Rogers (Chris Evans) é escolhido para se tornar um supersoldado não por causa da sua força ou de suas habilidades, mas sim devido a seu senso de honra e justiça. Em Capitão América: O Soldado Invernal, Rogers precisa lidar com uma conspiração no topo de uma agência de inteligência enquanto tenta enfrentar e salvar um amigo do passado.
Em Capitão América: Guerra Civil, Rogers entra em conflito com parte dos Vingadores para não correr o risco do grupo de super-heróis ser utilizado para fins políticos. Em todos esses momentos, o personagem tenta se manter acima de interesses nacionais ou pessoais, defendendo os interesses do público em geral não porque ele precisa, mas porque ele se encontra em uma posição na qual pode fazer uma diferença positiva.
Agora, em Admirável Mundo Novo, o Capitão América/Sam Wilson (Anthony Mackie) precisa lidar com uma conspiração que coloca o seu amigo Isaiah Bradley (Carl Lumbly) atrás das grades e que causa uma grave crise diplomática. O principal alvo parece ser o general Thaddeus Ross (Harrison Ford), que, depois de uma longa carreira perseguindo super-heróis, agora é presidente dos Estados Unidos. Ross tenta escrever uma nova página de sua história, mas as consequências de suas escolhas não permitem uma transição tão tranquila.
Essa premissa é digna de uma temporada de Jack Ryan, mas todos os mistérios são solucionados nas duas horas de duração de Admirável Mundo Novo. Inclusive, talvez não seja por acidente que a trama lembre parcialmente a dinâmica do filme Perigo Real e Imediato. Nele, um Jack Ryan interpretado por Harrison Ford entra em rota de colisão com a Casa Branca e com o próprio presidente dos EUA, que acredita estar acima da lei.
Ao contrário de alguns dos últimos filmes do MCU, Capitão América: Admirável Mundo Novo parece interessado em retomar a narrativa principal do universo compartilhado. Além de continuar a história da minissérie Falcão e o Soldado Invernal, a trama exige que o espectador se lembre de alguns detalhes do segundo filme do MCU, o longínquo O Incrível Hulk, lançado em 2008.
Além disso, a gigantesca figura que emergiu do Oceano Índico no final de Eternos tem um papel central na trama e no futuro da franquia, introduzindo um novo elemento químico que é uma das marcas registradas de um querido personagem. Há também uma personagem que pode ter sido resultante dos eventos de Viúva Negra, trazendo aquele tipo de ação e humor para a narrativa.
Já a cena pós-créditos mostra o grande vilão de Admirável Mundo Novo prevendo os épicos eventos de Vingadores: Guerras Secretas. Não há detalhes, mas a cena oferece sinais de que a Marvel Studios vai ao menos tentar voltar à grandiosidade de seu passado.
O filme possui alguma sinergia, inclusive, com eventos da vida real. O presidente Thaddeus Ross está em busca de cada vez mais poderio militar e de garantir que os EUA se mantenham como centro gravitacional da política internacional. Suas decisões já estão sendo comparadas com as decisões personalistas e irresponsáveis tomadas por presidentes como Joe Biden e Donald Trump. Esse último, por sinal, já dá sinais de que vai se transformar em um monstro incontrolável se as coisas não saírem do jeito que ele quer.
No filme, fica a cargo do novo Capitão América tentar desescalar a situação e lembrar a todos os envolvidos de que há sim um caminho para a paz e para a colaboração. Enquanto algumas pessoas se entregam à mediocridade do ódio e do ressentimento, Sam Wilson insiste em tentar alcançar o lado mais sensível e humano de cada pessoa que cruza o seu caminho.
É assim que ele evita absorver o ódio e as limitações de seus oponentes. Caso contrário, ele estaria fadado a ter o mesmo destino do general Ross: se tornar um dos “monstros” que ele mesmo passou boa parte de sua vida combatendo. Diferente do obcecado Ross, a honra e a bússola moral de Wilson não permitem que ele tente enterrar o passado ou que ele acredite que os fins justificam os meios.
Como entretenimento, Capitão América: Admirável Mundo Novo compensa seus questionáveis efeitos especiais com uma trama genuinamente envolvente (ainda que relativamente previsível) e com a introdução de personagens como Coral/Seth Voelker (Giancarlo Esposito) e Sabra/Ruth Bat-Seraph (Shira Haas). Completando o banquete para os fãs de quadrinhos, há também a intensa estreia de Joaquin Torres (Danny Ramirez) como o novo Falcão.