Crítica: Batalha Bilionária – O Caso Google Earth
The Billion Dollar Code, Alemanha, 2021
Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★☆☆
A dramatização realizada em Batalha Bilionária: O Caso Google Earth é muito bem-sucedida em inserir suspense e emoção em um técnico e detalhado caso de violação de patente. Ainda assim, a minissérie só deve agradar a quem tiver interesse em histórias sobre tecnologia, engenharia de software e empreendedorismo. A abordagem adotada se assemelha a um docudrama, mas a história ao redor do caso judicial é altamente fictícia, o que pode confundir o espectador.
Enquanto muitos dos diálogos são fiéis aos testemunhos judiciais, os personagens Juri Müller (Marius Ahrendt/Misel Maticevic) e Carsten Schlüter (Leonard Scheicher/Mark Waschke) são fictícios, servindo para representar os quatro desenvolvedores alemães por trás do projeto TerraVision. Tanto os personagens quanto as pessoas reais afirmam que o Google Earth foi em grande parte copiado do TerraVision depois que os desenvolvedores fizeram uma visita ao Vale do Silício em 1995. Na minissérie, o personagem fictício (inspirado em uma pessoa real) que recebe essas informações é Brian Anderson (Lukas Loughran), um funcionário da Silicon Graphics que posteriormente trabalharia para o Google.
O foco dos três primeiros episódios de Batalha Bilionária: O Caso Google Earth está na trajetória de Juri e Carsten, dois jovens visionários que, com a ajuda de uma ótima equipe e de financiamento público, desenvolvem a impressionante plataforma. Apesar do primeiro episódio ser um pouco arrastado, os episódios seguintes fluem de forma bem mais natural e realmente capturam a atenção do espectador. O que fica evidente é que o diretor Robert Thalheim não está interessado apenas nos detalhes técnicos, mas também no lado humano da história.
Naquela época, quando as tecnologias que utilizamos atualmente não passavam de “sonhos loucos” ou ficção científica, Juri e Carsten não estavam preparados para proteger uma plataforma tão revolucionária. Impressionados com o Vale do Silício e com um programador superstar, eles revelam detalhes que hoje seriam considerados segredos de negócio e tratados sob o mais restrito sigilo. A falta de experiência, a empolgação e a sensação de que qualquer coisa é possível evitam que eles prestem atenção na parte “chata” do negócio.
Os empreendedores de hoje já estão bem mais “espertos” em relação a esses detalhes, especialmente depois da chamada “guerra de patentes” que ocorreu durante o início da era dos smartphones (notícias da época aqui e aqui). Mas o diretor de Batalha Bilionária: O Caso Google Earth está mais interessado em se lembrar dos primórdios da era digital, conforme ele afirma nessa matéria:
Hoje, todo mundo fala apenas dos multimilionários que ficaram extremamente ricos com a Internet e que agora estão viajando para a Lua. Mas nós queríamos mostrar como tudo começou, e contar a história de pessoas que jamais estiveram sob os holofotes.
O minidocumentário que a Netflix lançou junto com a minissérie revela quem são os quatro desenvolvedores do TerraVision, dando-lhes a oportunidade de resumir a história em suas próprias vozes. Esse material não é lá muito revelador, mas, combinado com a dramatização, oferece uma visão mais realista dos acontecimentos. Fica claro que o que impede que mais detalhes sejam revelados é a possibilidade do Google processar os realizadores ou, até mesmo, a Netflix. É justamente por isso que a minissérie tenta se manter fiel aos registros judiciais, já que eles não podem ser questionados pela corporação.
É claro que é mais provável que o Google não esteja interessado em uma nova litigação, pois isso só serviria para chamar ainda mais atenção para a minissérie e para o caso. Além disso, os cineastas e os programadores teriam a gigante Netflix do lado deles, o que resultaria em uma batalha bem diferente da mostrada na minissérie. Além de ter muito dinheiro, a plataforma de streaming provavelmente contaria com o apoio da opinião pública em nível mundial.
Batalha Bilionária: O Caso Google Earth fluiria melhor se tivesse episódios mais curtos, mas mesmo assim entrega um drama de tribunal inteligente e, em alguns momentos, emocionante. No mínimo, a produção serve para nos lembrar de que há inúmeras histórias semelhantes que ficaram para trás enquanto o mundo permanece focado apenas nos gigantes da tecnologia.