Crítica: Ascensão do Cisne Negro
SAS: Red Notice (SAS: Rise of the Black Swan), Reino Unido, 2021
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★★★☆☆
Baseado em um romance escrito por um ex-membro das forças especiais britânicas (SAS), Ascensão do Cisne Negro é marcado pelo militarismo e pelos estereótipos do país, além de todos os clichês de filmes de ação. Ainda assim, a produção é quase um grande exemplar do gênero, graças especialmente a um roteiro que inclui não apenas uma intrigante trama política mas também comentários sobre a natureza psicopática dos heróis de ação. O que evita um sucesso mais completo é a ausência de cenas de ação realmente grandiosas e de surpresas mais empolgantes ao longo do caminho.
Além de ser um soldado da SAS, o protagonista Tom Buckingham (Sam Heughan) também é membro da aristocracia do país, com direito a uma casa de família que lembra os sets de The Crown (resenha aqui). Heughan, mais conhecido por seu papel na série Outlander e que já havia roubado a cena no filme Meu Ex é um Espião, está ótimo no papel. Sua participação aqui poderia ser utilizada como um teste de elenco caso ele seja considerado para interpretar o agente secreto James Bond nos futuros filmes da franquia.
Do outro lado, a mercenária Grace Lewis (Ruby Rose) está em busca de vingança. Ela e sua família lideram um grupo de mercenários (os “Cisnes Negros”) que foi contratado pelo governo britânico para se livrar de um vilarejo que impedia a construção de um gasoduto na Geórgia. Depois que imagens da ação vazam na Internet, o governo envia a SAS com a missão oficial de prender os mercenários, mas com o objetivo real de eliminá-los. Grace, que é bem mais fria e intimidadora do que a vilã interpretada por Rose em John Wick: Um Novo Dia Para Matar (crítica aqui), escapa e dá início ao sequestro de trem que é o ponto focal do filme.
Ela também é a personagem que enxerga os traços de psicopatia de Tom, apontando para a similaridade entre os dois. Algumas dessas características já haviam sido notadas por sua namorada, Sophie Hart (Hannah John-Kamen), mas ela consegue ter um relacionamento aparentemente saudável com ele. O autor do romance, ele mesmo diagnosticado com psicopatia, já havia abordado o tema em vários livros que tentam orientar outros psicopatas a como ter vidas normais, sem prejudicar as pessoas ao seu redor. Com a ajuda de um especialista, ele mostra que nem todas as pessoas diagnosticadas com o problema se tornam os “monstros” geralmente representados no cinema e na TV.
A trama política, que implica diretamente o primeiro-ministro Atwood (Ray Panthaki), é um tanto exagerada, mas reflete os conflitos reais envolvidos na construção desse tipo de infraestrutura e o uso de militares privados por governos nacionais. A história também é realista ao mostrar a atuação do governo britânico em prol dos interesses de uma multinacional do país, prática comum ao redor do mundo, mas muitas vezes marcada por corrupção e falta de transparência.
Ascensão do Cisne Negro provavelmente recebeu esse título devido à distribuição da Netflix. O filme foi lançado em março no Reino Unido com o título original do romance, SAS: Red Notice, mas foi distribuído internacionalmente pela Netflix como SAS: Rise of the Black Swan. A mudança provavelmente ocorreu para não gerar confusão com Red Notice, mega-produção original da plataforma de streaming que deve ser lançada ainda em 2021.
No geral, Ascensão do Cisne Negro lembra muito mais os “filmaços” de ação do passado do que as mega-produções do presente. A mistura de 007 com Duro de Matar que temos aqui pode não ser para todos os gostos, mas há filmes de ação bem piores sendo lançados atualmente. Pelo menos, há aqui personagens bem escritos e algumas cenas de ação bem ousadas, apesar do resultado final não ser tão impressionante quanto os realizadores pretendiam.