Crítica: Arcane – 2ª Temporada

Arcane, EUA/França, 2021



Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★★


A tragédia que marcou o final da primeira temporada de Arcane tem exatamente as repercussões que o espectador poderia esperar. Agora, pessoas cansadas e traumatizadas correm o risco de perder a própria humanidade ao buscar vingança e se entregarem a uma espiral de violência, culminando em uma terrível guerra. Porém, a trama ainda nos reserva muitas surpresas e revelações, sendo uma conclusão quase perfeita para essa estilosa adaptação do universo de League of Legends.

arcane 2ª temporadaEra de se esperar que Jinx (Ella Purnell) seria a principal vilã da segunda temporada de Arcane, mas ela só é o problema principal durante o primeiro dos três atos (cada ato possui três episódios). A série finalmente revela o que pretendia ao apresentar, ainda na primeira temporada, as subtramas de Ambessa Medarda (Ellen Thomas) e Viktor (Harry Lloyd). Enquanto o destino de Viktor é surpreendente, Ambessa faz exatamente o que se podia esperar de sua personalidade.

As maquinações políticas dessa “senhora da guerra” culminam em um plano que visa utilizar o medo e a desinformação para justificar um regime autoritário. Aproveitando a tragédia provocada por Jinx, ela alimenta o ciclo de violência para se beneficiar com o caos, lembrando as tramas de filmes como V de Vingança e Agentes do Caos. E assim, uma população apavorada e cheia de incertezas passa a apoiar uma ditadura que promete segurança e proteção.

Para tal, Ambessa precisa pintar os cidadãos da subferia como uma ameaça que precisa ser sufocada. Dessa forma, Arcane mais uma vez nos lembra de situações reais em sua trágica história. Mais especificamente, os conflitos entre a subferia e o lado alto refletem muito do ódio e do ressentimento que marcam o Conflito Israel-Palestina, com facções dos dois lados se considerando no direito de fazer uso da violência em nome de uma elusiva “paz”.

Já o caso de Viktor vai em uma direção tão surpreendente quanto compreensível. Enquanto era de se esperar que sua frágil saúde o levaria a um fim prematuro, ele “renasce” e se torna o líder de muitos dos desamparados habitantes da subferia. Na prática, esse grupo se torna uma seita. Essa reviravolta lembra não apenas a trama de Duna: Parte 2, mas também os muitos casos de líderes messiânicos que surgem dentre populações que estão passando por dificuldades.

arcane 2ª temporada

Em meio a tudo isso, os dramas pessoais de Arcane não são deixados de lado. Há, inclusive, espaço para momentos emocionantes de drama familiar e até para momentos românticos de tirar o fôlego. Nessa frente, os grandes destaques são os dramas vividos por Vi (Hailee Steinfeld) e Caitlyn (Katie Leung), duas guerreiras de lados opostos que estão apaixonadas uma pela outra e que são afastadas pelas ações de Jinx.

O relacionamento entre Vi e Jinx também começa a temporada extremamente fraturado, com as irmãs se considerando obrigadas a matar uma a outra. Tudo isso coloca Vi em uma jornada de autodestruição da qual ela só sai quando uma improvável reviravolta exige toda a sua atenção.

No mais, enquanto Jayce (Kevin Alejandro) e Ekko (Reed Shannon) fazem uma viagem pelas profundezas do Arcane, Mel Medarda (Toks Olagundoye) finalmente descobre a natureza dos misteriosos inimigos de sua mãe. Todos esses dramas pessoais culminam em momentos épicos no episódio final, com Ekko mais uma vez tendo um papel central (assim como ele teve nos eventos que deram início ao primeiro episódio da série) e a amizade entre Jayce e Viktor estando no centro de eventos que podem destruir o mundo.

No fim das contas, não há vilões puramente malévolos em Arcane. Jinx, Ambessa, Viktor e até Silco (Jason Spisak) são pessoas que reagem a seus traumas de formas relativamente compreensíveis, especialmente quando eles possuem as melhores intenções em relação aos seus entes queridos. O problema é que, durante um bom tempo, eles não se importam com as consequências de suas ações sobre todas as outras pessoas ao seu redor, o que os tornam figuras tóxicas e extremamente perigosas.

Nem todos os elementos dramáticos da segunda temporada de Arcane possuem a mesma naturalidade dos eventos da primeira temporada, mas isso é compensado com momentos ainda mais épicos e cenas de ação ainda mais belas e empolgantes. Em alguns momentos, é difícil acreditar em como a série combina a fantástica estética (incluindo a trilha sonora) com a incrível história, fazendo uso de elementos de política e filosofia para compor uma trama não apenas trágica e instigante, mas também humana e genuinamente emocionante.