Crítica: Alien – Covenant
Alien: Covenant, EUA, 2017
Filme acerta em todos os pontos nos quais Prometheus errou
★★★★☆
Cada curva na estrada seguida pelo roteiro de Alien: Covenant é visível a quilômetros de distância. Cada clichê é preparado da forma mais óbvia possível. Cada reviravolta chega exatamente quando o espectador esperava. E, ainda assim, nada disso diminui o impacto da montanha-russa que é mais esse capítulo da franquia Alien. Como visitantes passeando pela 6ª vez em um mesmo parque de diversões, somos conduzidos pela familiar atmosfera de terror e desespero característica dos melhores exemplares da franquia. A grande diferença é que, dessa vez, ao invés de apreensão, o que sentimos é pura antecipação pelo o que está prestes a acontecer.
Um dos grandes méritos dessa continuação é conseguir aparar as arestas deixadas pelo (ao menos para mim) decepcionante Prometheus, que sofria de um grave excesso de mitologia e personagens, além de tentar ser mais profundo e filosófico do que um filme sobre criaturas assustadoras matando pessoas poderia ser. Alien: Covenant não abandona o lado filosófico, mas o utiliza de forma inteligente e contida para lapidar um formidável vilão. O aspecto biológico da trama também está bem superior, e explica de forma relativamente plausível como a arma biológica desenvolvida pelos Criadores se transforma até chegar na exata espécie de xenomorfo que aterroriza os humanos nos quatro primeiros filmes da série.
Outra significativa melhoria está no ritmo da narrativa. A bela e plácida cena de abertura mostra o “nascimento” do androide David (Michael Fassbender) e a intrigante conversa que ele tem com seu criador, Peter Weyland (Guy Pearce), mostrando as raízes das motivações desse “sintético” tanto em Prometheus quanto em Alien: Covenant. Somos então transportados direto para rotina de Walter (também Fassbender), o androide que cuida da manutenção da nave colonizadora Covenant, enquanto os tripulantes e passageiros ficam em animação suspensa durante a viagem de mais de 7 anos. Mas algo dá errado e a tripulação tem que ser acordada às pressas, apenas para rapidamente começar a tomar a decisões bastante questionáveis, como visitar um planeta não mapeado durante a busca por um novo lar.
Uma vez no desconhecido planeta, as coisas saem completamente de controle de forma bem rápida, cruel e espetacular. São menos de dez minutos entre “ok, vamos ver o que tem por aqui” e “oh, meu deus, o que está acontecendo?!?”. Essa é uma grande evolução em relação a narrativa de Prometheus, que durante boa parte do filme deixa o espectador esperando por algum acontecimento significante. É curioso notar que um dos maiores motivos pelo qual a narrativa aqui consegue se manter tão enxuta é o fato dos momentos mais explicativos terem sido lançados antes do filme, ao invés de ocuparem seus primeiros minutos.
Além de dois prólogos, um que mostra o que aconteceu após o final de Prometheus e outro que evidencia o clima de família que há entre a tripulação, outros vídeos mostram as últimas mensagens que eles enviam para a Terra. Mais do que material de divulgação, esses vídeos servem como complemento à narrativa. Apesar de não serem essenciais, eles ajudam a contextualizar o universo no qual o filme está inserido e até a aumentar o impacto dramático das tragédias que atingem os personagens. Todos eles podem ser assistidos nessa lista.
Um fato interessante é que um dos melhores vídeos do material de divulgação possui apenas cenas que, além de não estarem no filme, também não fazem muito sentido no contexto da versão que chegou aos cinemas. Até o lançamento de uma versão estendida, podemos apenas imaginar a tensão e o humor que ficaram no chão da sala de edição.
Enquanto ficamos esperando a protagonista Daniels (Katherine Waterston) se tornar uma nova Tenente Ellen Ripley (o que não acontece), é o David de Fassbender que domina a tela. Além da expressão facial de quem parece inocente mas está sempre escondendo algo (e que o personagem trás desde Prometheus), ele agora tem o irônico sorrisinho de quem sabe o que está prestes a acontecer e vai se divertir com isso.
O androide e o espectador compartilham esse mesmo sorriso quando ele maliciosamente incentiva um desavisado membro da tripulação a “dar uma olhada” em dos ovos dos xenomorfos. Apenas ele e os conhecedores da franquia sabem o que vai acontecer, e, nesse momento, as risadas nervosas tomam conta da sala de cinema. E sim, os facehuggers estão de volta, juntos com algumas novas espécies.
Ao apostar em uma estória mais enxuta e menos épica que em Prometheus, o diretor Ridley Scott acerta a mão e mostra que ainda está no domínio de sua arte. Além de ajustar o curso de uma franquia que parecia ter perdido o rumo, Alien: Covenant consegue deixar o público pedindo por mais, ainda que toda essa explicação acabe tirando um pouco da “magia” dos xenomorfos. Uma eventual continuação seria perfeita para fechar esse ciclo narrativo e deixar a franquia descansar em paz, ecoando pelo vazio do espaço.