Crítica: A Hora do Diabo – 2ª Temporada
The Devil’s Hour – Season 2, Reino Unido, 2024
Prime Video · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A segunda temporada de A Hora do Diabo abre o jogo e inclui mais jogadores na envolvente trama da série. Porém, esse ainda é um trecho intermediário da história, não oferecendo muitas respostas e estabelecendo mais alguns mistérios. A terceira (e última) temporada já foi filmada e deve ser lançada em 2025 pela Prime Video. Por enquanto, podemos ir “mastigando” esses cinco episódios lançados em outubro de 2024.
Se na primeira temporada uma das grande questões era sobre a real natureza dos “poderes” do assassino Gideon Shepherd (Peter Capaldi), na segunda podemos ver Lucy Chambers (Jessica Raine) fazendo exatamente o que ele fazia. Agora membros de uma improvável aliança, os dois atuam juntos para impedir um misterioso atentando terrorista em uma loja de brinquedos.
O que Gideon revelou no final da primeira temporada é que ele não tem poderes, mas sim memórias e habilidades acumuladas ao longo das várias vidas que ele vive em repetição. No universo de A Hora do Diabo, Gideon “reencarna” logo após morrer, mas voltando para a mesma vida e o mesmo corpo. Ou seja, ao contrário dos conceitos mais comuns de reencarnação, sua “alma” não vai para um corpo novo e segue em frente, mas volta para o exato momento em que ele nasceu e recomeça a viver a mesma vida.
Como ele renasce já com as memórias do loop anterior (ou seja, da versão anterior da sua vida), isso dá a ele a possibilidade de tomar decisões diferentes e de “prever” acontecimentos futuros, o que ele utiliza para prevenir crimes e acidentes. Porém, se as coisas que ele faz de forma diferente causarem mudanças demasiadamente bruscas, o futuro como ele conhecia é alterado (pelo efeito borboleta) e sua capacidade de previsão fica extremamente limitada. É isso o que acontece quando ele impede o suicídio de Sylvia Chambers (Barbara Marten), mãe de Lucy.
Foram as consequências desse evento que assistimos na primeira temporada. Ao invés de se tornar detetive e se casar com o colega Ravi Dhillon (Nikesh Patel), como nos loops que Sylvia está morta, Lucy se torna uma assistente social e tem seu filho Isaac (Benjamin Chivers). É por isso que Gideon tem dificuldades em localizá-la. Porém, o plano dele dá certo e Lucy recupera as memórias de sua vida passada quando sobrevive ao incêndio em sua casa. Veja que Issac não existiria se Gideon não tivesse evitado o suicídio de Sylvia.
O primeiro episódio da segunda temporada de A Hora do Diabo faz um ótimo trabalho ao mostrar como o loop anterior, no qual Lucy era uma detetive de polícia, havia se desenvolvido. Agora o espectador também sabe quais são as memórias que a Lucy do loop atual recuperou e como foi que sua versão anterior forjou uma aliança com Gideon, depois de ele passar 25 anos na prisão esperando pela oportunidade. Normalmente, seria mais fácil para ele cometer suicídio e começar a vida novamente.
Percebe-se então que A Hora do Diabo não é necessariamente uma série sobre viagem no tempo, como Dark e Além da Margem, apesar dos efeitos dos loops causarem situações semelhantes. A segunda temporada lembra parcialmente a abordagem do filme Looper: Assassinos do Futuro, tanto pela complexidade quanto pela presença de uma criança problemática no centro da trama. A criativa abordagem também remete à série Periféricos, na qual a “viagem no tempo” não é uma viagem corporal.
A série ainda precisa ir mais fundo na mecânica dos loops, pois, apesar de serem tratados como sequenciais (anterior, próximo, atual, etc.), também existe a ideia de que eles são simultâneos, o que nos leva aos conceitos de linhas do tempo alternativas ou universos paralelos. Além disso, quando Isaac se teletransporta de um loop para outro, não fica claro se ele está se movendo ao longo do tempo ou ao longo do espaço, ou ao longo dessas duas dimensões simultaneamente.
A segunda temporada de A Hora do Diabo termina com um mega cliffhanger, dando a entender que a terceira irá cobrir novas iterações nas vidas de alguns personagens. A identidade do terrorista segue desconhecida (apesar de haver alguns óbvios suspeitos), mas tudo indica que haverá paradoxos envolvidos e as causas serão indistinguíveis das consequências, como ocorria em Dark. O que nos resta é aguardar pelo próximo loop de uma das séries mais viciantes da atualidade.