Crítica: 1923 – 2ª Temporada
1923, EUA, 2022-2025
Prime Video · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
O episódio final de 1923 consolida a série como uma experiência tão pessimista quanto empolgante. Enquanto a primeira temporada ainda teve alguns momentos de felicidade ao mostrar o romance entre Spencer (Brandon Sklenar) e Alexandra Dutton (Julia Schlaepfer), a segunda mergulha em um mundo de tragédias e sofrimentos intercalados por brevíssimos momentos de otimismo. Ao fim, a família Dutton consegue manter o rancho Yellowstone, mas esse não é necessariamente um final feliz.
Inicialmente planejada como uma minissérie e com quinze episódios no total (oito na primeira e sete na segunda temporada), 1923 combina as abordagens das séries 1883 e Yellowstone. A trama mantém o tema central de Yellowstone, mostrando a família Dutton resistindo às investidas de pessoas que pretendem tomar a terra e utilizá-la para fins mais destrutivos e capitalistas. Nessa geração, a família é liderada por Jacob (Harrison Ford) e Cara Dutton (Helen Mirren).
Porém, a série também se mantém fiel à épica e devastadora jornada mostrada em 1883. Enquanto Jacob e Cara lutam em Montana para manter o rancho, outros personagens cruzam terras e mares em viagens que possuem suas próprias características épicas. Além dos perigos provindos da natureza, esses personagens precisam lidar com a impiedade de burocratas, de homens da lei e de criminosos.
A jornada de Spencer começou ao lado de Alexandra na primeira temporada, mas agora eles seguem caminhos diferentes rumo ao estado de Montana. Enquanto Spencer finalmente chega no sul dos EUA e precisa ir do Texas para o norte, Alexandra cruza o Atlântico e percorre o país de leste a oeste pelas estradas e ferrovias da região norte.
Paralelamente, a jovem indígena Teonna Rainwater (Aminah Nieves) traça um caminho inverso ao de Spencer, fugindo do norte e chegando ao Texas.
Muitos espectadores esperavam que todos esses personagens se encontrariam em Montana ainda na primeira temporada, e que a maior parte da série seria ambientada lá. Porém, agora fica claro que, em 1923, as jornadas desses personagens são tão importantes quanto o conflito pela terra, contrastando a luta pela propriedade rural da família com a grandiosidade do mundo exterior.
A escrita do criador e roteirista Taylor Sheridan tenta mais uma vez equilibrar a beleza e a brutalidade da existência nesse mundo, concluindo a obra com um tom de tragédia romântica. Porém, o peso das tragédias mostradas nessa segunda temporada acaba dando um ar predominantemente pessimista e sombrio à história.
A tragédia no final de 1883 é devastadora, mas foi antecedida por muitos momentos poeticamente felizes e veio acompanhada da sensação de que o tempo passa e a vida continua. Já na segunda temporada de 1923, o sofrimento quase constante foi encerrado por mortes trágicas e inesperadas. É uma abordagem tão brutal quanto realista, mas que pode ser emocionalmente custosa para o espectador que esperava apenas algum tipo de final feliz.
O resultado chega a ficar existencialista. Vitórias e vinganças são atingidas, mas a que custo? Os sobreviventes podem continuar vivendo, mas, diante das perdas e dos traumas vividos, até que ponto isso é uma vitória? Mais do que nunca, os personagens de Sheridan aqui podem até superar algumas crises, mas podem apenas sobreviver a outras.
Nesse aspecto, a trama também realça a impiedade de uma humanidade e de uma natureza que não se importa com seus dramas pessoais e com o quanto você sofreu ou se esforçou. Tomar decisões ruins podem garantir a sua morte; porém, tomar decisões boas não te garante nada.
Já o lado mais empolgante da série está em cenas de ação e suspense de tirar o fôlego. Spencer e os demais personagens precisam lidar com várias dificuldades ao longo do caminho, mas são os episódios finais que contam com os momentos mais icônicos. Há a amarga vingança de Teonna contra o padre Renaud (Sebastian Roché), o tiroteio na estação de trem e a triunfal chegada de Spencer de volta ao rancho.
O finale também nos presenteia com Helen Mirren dando uma de sniper com um rifle de caça, além do emocionante reencontro entre Spencer e Alexandra.
A conclusão da subtrama de Teonna foi inesperada, já que ela jamais entra em contato direto com a família Dutton, mas estabelece a personagem de forma magistral. Essa conclusão deixa o espectador curioso sobre o futuro dela e sobre como sua família irá parar em Montana, já que ela é ancestral de um dos personagens de Yellowstone, o chefe indígena Thomas Rainwater (Gil Birmingham).
A série também adiciona mais uma camada na árvore genealógica da família Dutton, revelando no episódio final quem são os avós paternos de John Dutton (Kevin Costner), protagonista de Yellowstone.
Ao fim, 1923 nos oferece mais uma épica, empolgante e devastadora jornada no mundo de Yellowstone. Muitas ressalvas podem ser feitas sobre o estilo nada convencional da escrita de Taylor Sheridan, mas o resultado é mais uma vez ambicioso e impressionante. Se a série 1944 realmente for confirmada, só nos resta esperar para conferir quais outras jornadas e quais outros sofrimentos aguardam a família Dutton em um dos momentos mais marcantes do Século 20.