Coronavírus: O Último Cruzeiro
Com apenas quarenta minutos de duração e utilizando principalmente os registros feitos pelos próprios passageiros e tripulantes, o documentário O Último Cruzeiro transmite muito bem como foi a experiência de estar à bordo do Diamond Princess durante o início da pandemia de COVID-19. A experiência vivida por eles serviria para ajudar os cientistas a entenderem o processo de transmissão do vírus e antecipou muitas das situações que a população mundial viveria nos meses seguintes.
O caso do Diamond Princess foi amplamente coberto pela imprensa mundial, mas o documentário está mais interessado em mostrar como as pessoas que estavam lá dentro lidaram com a situação. O clima de férias e diversão não é interrompido nem quando as primeiras notícias sobre um novo vírus chegam e nem quando as pessoas começam a ser testadas a bordo. Mas em questão de dias, a atmosfera de entretenimento seria gradualmente substituída por uma crescente incerteza em relação ao futuro e sobre quando aquela situação seria normalizada.
Quando o capitão informa que os passageiros não podem sair de seus quartos, a ansiedade causada pelo isolamento social começa a ser sentida. Tanto os registros de vídeo mostrados quanto as entrevistas dadas pelos passageiros deixam claro o quão nova e imprevisível era aquela situação. A vida a bordo do navio havia se transformado completamente para os passageiros, mas não para a tripulação.
Enquanto os passageiros estavam isolados, os tripulantes continuavam trabalhando e compartilhando alojamentos sem ventilação externa, criando uma situação muito semelhante à que viria a acontecer em vários países. Enquanto parte da população tinha a possibilidade de se isolar, uma outra parte precisa continuar trabalhando para garantir o funcionamento da sociedade e a sobrevivência das pessoas. Os entrevistados falam inclusive sobre casos de tripulantes que estavam com sintomas de COVID-19 e preferiram ocultar essa informação, o que provavelmente colaborou para o espalhamento da doença.
Diante de uma doença que havia surgido apenas algumas semanas antes, as informações colhidas no Diamond Princess ajudariam os cientistas a chegar a duas conclusões sobre o vírus: ele podia ser transmitido pelo ar e por pessoas assintomáticas. Essas informações podem ser óbvias hoje, mas na época representaram novidades significativas no combate à pandemia e serviram para orientar as decisões de muitos governos. Ainda assim, muitas decisões equivocadas foram tomadas, já que durante o início da quarentena no navio ainda não estava claro que a doença podia ser transmitida diretamente entre seres humanos.
A resposta das autoridades responsáveis pelo Diamond Princess é comparável às respostas de muitas autoridades ao redor do mundo. Nesse sentido, O Último Cruzeiro é comparável ao documentário Totally Under Control (resenha aqui), que mostra as muitas limitações da resposta do governo dos EUA à pandemia. A diferença é que os técnicos da área e do governo já conheciam a gravidade da situação, mas foram sabotados pelas respostas negacionistas dos políticos que estavam no poder.
O Diamond Princess não foi o último cruzeiro a ser lançado durante a pandemia e nem foi o último a registrar casos a bordo, por mais que novos protocolos de segurança tenham sido estabelecidos. Até a pandemia ser completamente controlada no mundo inteiro em terra firme, esse tipo de viagem não estará completamente segura. Ao que tudo indica, o surto de COVID-19 no Diamond foi causado por uma única pessoa infectada, que ficou por apenas cinco dias no navio. O resultado foi um total de 712 pessoas infectadas e 14 mortes.
Veja também:
- MSC Cruzeiros volta a navegar seguindo protocolos de segurança (25/09/2020)
- MSC volta a cancelar cruzeiros devido à covid-19 (23/12/2020)
- Após paralisação completa, cruzeiros tentam retornar ao País em novembro (01/04/2021)