Crítica: A Princesa da Yakuza
Yakuza Princess, Brasil, 2021
Ritmo lento atrapalha significativamente o que poderia ser um ótimo filme de ação
★★☆☆☆
Todos os ingredientes para um ótimo filme de ação estão presentes em A Princesa da Yakuza, mas eles jamais são capazes de superar o ritmo lento e demorado imposto pelo roteiro e pela direção. A história, adaptada de uma graphic novel, é razoavelmente interessante, mas não o suficiente para ser o principal pilar de sustentação de um filme de uma hora e cinquenta minutos de duração. Essa sustentação deveria vir da ação e da adrenalina, mas elas são tão escassas que o restante da trama acaba se impondo.
Uma vez que o filme é intitulado A Princesa da Yakuza, é de se imaginar que a protagonista Akemi (Masumi) terá que lidar com dramáticas revelações sobre seu passado e sobre seu destino. Porém, essas revelações são apresentadas à conta-gotas, como se não fossem facilmente previsíveis. Mesmo as revelações sobre o passado do misterioso e desmemoriado Shiro (Jonathan Rhys Meyers) não se distanciam significativamente do que se espera desse tipo de história. Ainda assim, a produção insiste em tentar imbuir um grande peso dramático a essas situações, o que jamais funciona.
Em um filme como esse, seria suficiente que os personagens fizessem uma cara de surpresa depois de cada revelação e imediatamente partissem para a briga. Ao invés disso, A Princesa da Yakuza tem um trecho de quase trinta minutos que além de não ter cenas de ação também não tem muitos diálogos que realmente façam a trama avançar. Esse momento é até útil na construção do estilizado mundo fictício da produção, mas funcionaria bem melhor se ao menos tivesse uma trilha sonora mais agitada e envolvente para ajudar a manter o espectador acordado. Depois que esse cansativo trecho termina, fica bem difícil se importar com o resto da trama.
O que realmente funciona muito bem são as cenas de ação, especialmente as lutas de espada e a longa sequência de perseguições e lutas que tem início na entrada do apartamento de Akemi. Nesses momentos, tanto a edição quanto as coreografias maximizam o impacto das cenas e aumentam o nível de adrenalina, mesmo sem uma trilha sonora à altura. A ação só fica devendo em termos de quantidade, e esse deficit só ocorre porque o filme é mais longo do ideal. Se tivesse menos de uma hora e meia de duração e exatamente as mesmas cenas de ação, esse seria um filme muito melhor.
Um exemplo de como chegar mais perto desse equilíbrio está em Kate (crítica aqui), filme da Netflix que tem muitas similaridades com A Princesa da Yakuza, inclusive nas imperfeições. Nele, a protagonista também precisa enfrentar a Yakuza em um mundo violento e estilizado, mas sua trama jamais testa a paciência do espectador que sentou para assistir a um filme de ação. Algumas das cenas dramáticas se levam mais a sério do que o ideal, mas pelo menos elas jamais ocupam o espaço reservado para os tiroteios e a pancadaria.
Os dois filmes utilizam relativamente bem as cidades nos quais são ambientados. Se Kate coloca uma americana em Tóquio, A Princesa da Yakuza coloca uma japonesa em São Paulo. O filme tenta explorar o lado japonês da cidade, o que pode ser um atrativo tanto para o público brasileiro quanto para o internacional. Porém, esse é mais um aspecto que contribui para o aumento do tempo de duração. As ruas do bairro da Liberdade funcionam muito bem como pano de fundo para a ação, mas há várias cenas nas quais os personagens estão simplesmente andando por elas a caminho de casa ou do trabalho.
Em resumo, A Princesa da Yakuza tenta encaixar muitos elementos no que deveria ser um curto e impactante filme de ação. Isso é até compreensível, já que a indústria cinematográfica brasileira dificilmente é capaz de garantir que um filme terá uma continuação para expandir e se aprofundar no universo apresentado. Porém, tentar “empacotar” a maior quantidade possível dos elementos desse universo em um único filme pode comprometer a qualidade desse capítulo único e dificultar ainda mais a possibilidade de uma continuação.