Crítica: Clickbait

Clickbait, EUA, 2021



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★★★★☆


A trama central de Clickbait poderia facilmente ser resumida em um bom filme de duas horas de duração, mas a minissérie se justifica ao adotar uma abordagem que explora as ramificações do evento principal e absorve completamente o espectador. Cada um dos oito episódios é protagonizado por um personagem diferente, mostrando as diferentes perspectivas da história. Não é que os mesmos eventos sejam mostrados sob outros pontos de vista, mas sim que diferentes personagens fazem a trama avançar de acordo com suas próprias experiências. O resultado é um prato cheio para quem gosta de mistérios dramáticos como os da minissérie Mare of Easttown (crítica aqui) ou do filme Garota Exemplar.

clickbait 1A trama também possui vários pontos em comum com o filme Buscando e com o episódio Odiados pela Nação (S03E06) da série Black Mirror, justapondo dramas humanos com a realidade desumanizada do mundo online. Aqui, depois que o exemplar pai de família Nick Brewer (Adrian Grenier) é sequestrado, um vídeo acusando-o de ser um abusador de mulheres é publicado na Internet, junto com a promessa de que Brewer será assassinado quando a publicação atingir cinco milhões de visualizações. Isso coloca sua irmã Pia (Zoe Kazan), sua esposa Sophie (Betty Gabriel) e o detetive Roshan Amiri (Phoenix Raei) em uma frenética corrida contra o tempo para resgatá-lo.

Porém, uma vez que a investigação tem início, tudo o que a família e os amigos de Nick sabiam sobre ele começa a desmoronar. A vida alternativa que ele tem online é completamente diferente do Nick da vida real, afetando seriamente as pessoas mais próximas dele. Enquanto algumas duvidam de que tudo aquilo seja real, outras tentam simplesmente aceitar e seguir em frente. Em cada episódio, é possível não apenas conhecer cada um dos protagonistas mais a fundo, o que enriquece a trama, mas também ter uma ideia das consequências das ações do Nick da Internet sobre suas vidas.

clickbait 2No final, a história de Clickbait é sobre pessoas normais tentando escapar de suas próprias vidas por meio de fantasias que saem completamente de controle. Guiadas por impulsos e pelo tipo de solidão que nem mesmo boas amizades ou um casamento estável são capazes de afastar, elas se entregam a essas fantasias, desligando completamente qualquer tipo de desconfiança ou sem pensar nas consequências de suas ações sobre as vidas de pessoas reais. O que para uma pessoa pode ser a muito aguardada concretização de uma fantasia romântica, para outra pode ser apenas a manifestação de uma fantasia de poder ou de existência alternativa.

Clickbait também é marcada por grandes e exageradas reviravoltas, inclusive no episódio final, que é contado sob o ponto de vista de um dos culpados. Os múltiplos pontos de vista também permitem que a minissérie explore outros temas, como luto, ética jornalística e saúde mental, garantindo que cada episódio se destaque com seu próprio drama. Essa abordagem permite que a história seja contada de uma forma mais completa e humana, com seus personagens sendo muito mais do que peças em um jogo de adivinhação.