Crítica: Infinito
Infinite, EUA, 2021
Prime Video · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★☆☆☆
Era de se esperar que Infinito oferecesse, no mínimo, um bom e descompromissado filme de ação. Porém, a produção sequer chega a esse patamar, sendo prejudicada, acima de tudo, por um roteiro fraco e sem inspiração. Mesmo a direção “no automático” de Antoine Fuqua seria o suficiente para justificar o projeto, mas outros problemas vão se acumulando e vai ficando cada vez mais difícil se importar com o desfecho da história. Com diálogos engessados e atuações lamentáveis, o filme representa uma grande oportunidade perdida para todos os envolvidos.
Além de Fuqua, Wahlberg também está no automático, aparentando estar confuso mesmo depois que seu personagem recupera a memória e todos os detalhes da trama são revelados. E não há muito o que revelar, pois, nos primeiros momentos do filme, a mitologia desse mundo é explicada em uma narração rasa, genérica e desprovida de dramaticidade. É a voz do próprio Wahlberg que explica a premissa em alguns segundos e deixa para Fuqua apenas o trabalho de mostrar uma grande cena de ação, cujo contexto só fica claro posteriormente.
A ideia central é que algumas pessoas são capazes de se lembrar de todas suas vidas passadas, sempre reencarnando com todo esse conhecimento acumulado. Dentre elas, dois grupos se enfrentam ao longo dos séculos, um com o objetivo de colaborar com a evolução da humanidade e outro planejando aniquilá-la. Uma premissa como essa poderia inspirar grandes reflexões filosóficas sobre identidade e sobre o que faz uma pessoa ser quem ela é, ou mesmo sobre a eterna luta da vida contra a morte. Sob um ponto de vista menos ambicioso, a trama poderia ao menos gerar uma franquia relativamente inovadora, sempre recrutando novos atores para interpretar os mesmos personagens ao longo da História da humanidade.
Ao invés disso, Infinito se contenta em ser mais um filme de ação genérico que segue as “novas Leis da Física” estabelecidas na franquia Velozes e Furiosos. A ação e os efeitos especiais são relativamente bons, mas todo o resto tem uma “pegada” meio filme B dos anos 1980 (o que poderia funcionar se o roteiro se levasse menos a sério). Dentre as atuações, a única que realmente funciona é a de Chiwetel Ejiofor, o que torna seu caricato vilão o personagem mais profundo e psicologicamente complexo da trama. Ele é o único capaz de elevar o nível do roteiro, transmitindo toda a intensidade e comprometimento que o resto da produção precisava.
Tudo isso deixa o filme muito abaixo de produções como The Old Guard (crítica aqui) e Highlander: O Guerreiro Imortal, que possuem semelhanças temáticas com a trama de Infinito. A diferença é que aqui os heróis não são realmente imortais, mas suas consciências atravessam o tempo em corpos e em contextos diferentes. Isso poderia ter sido usado pelos roteiristas para diferenciar a abordagem, mas essa é apenas mais uma oportunidade perdida. É possível que a produção esteja abaixo até mesmo da adaptação cinematográfica de Assassin’s Creed (crítica aqui), que possui uma premissa semelhante e que também decepcionou quem aguardava algo grandioso e memorável.
Para quem está interessado estritamente nas cenas de ação e precisa de um filme para “deixar passando” enquanto faz alguma outra coisa, Infinito é a escolha certa. Entretanto, para quem pretende prestar atenção nos diálogos e na história, é melhor procurar alternativas. Esse conselho também vale para os financiadores da produção, caso eles realmente queiram construir uma franquia com base nesse tropeço.