Crítica: Castlevania – 4ª Temporada
Castlevania – Season 4, EUA, 2021
Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A temporada final de Castlevania fecha com chave de ouro essa fantástica série animada da Netflix. Inspirada na clássica franquia de vídeo games, a produção vem desde a primeira temporada oferecendo uma história envolvente e uma animação de tirar o fôlego nas cenas de ação. Aqui, a trama não serve apenas como desculpa para as incríveis batalhas, possuindo seus próprios atrativos em termos de mistérios, dramas e reviravoltas. Os roteiros conseguem não apenas dar um considerável peso dramático à ação mas também capturar o espectador na mitologia e nas filosofias desse sombrio mundo de fantasia.
O incrível arco narrativo formado pelas duas primeiras temporadas é superado pelo arco formado pelas terceira e quarta. Se as duas primeiras cobrem principalmente o luto e os conflitos emocionais que levam Drácula (Graham McTavish) a tentar eliminar toda a humanidade, a terceira cobre os heróis Trevor Belmont (Richard Armitage) e Sypha Belnades (Alejandra Reynoso) mergulhando na escuridão de um mundo caótico e impiedoso. Paralelamente, Alucard (James Callis) parece ter um alívio de suas profundas melancolia e solidão, apenas para ser traído pelos traumas de outras pessoas.
É nesse completo clima de pessimismo que a quarta temporada de Castlevania tem início. Depois de mais algumas semanas se defendendo das criaturas da noite, Trevor e Sypha percebem que essa abordagem reativa os está conduzindo para a morte certa e que eles precisam tomar alguma iniciativa se quiserem acabar com as ameaças de uma vez por todas. Enquanto isso, o isolamento de Alucard continua se agravando, até ele receber um pedido de ajuda. Dessa vez, os grandes vilões da temporada são os diversos tipos de “morte” que cercam os personagens.
Apenas os núcleos centralizados em Isaac (Adetokumboh M’Cormack) e Carmilla (Jaime Murray) possuem alguma forma de “otimismo”, já que os dois personagens desenvolvem planos seríssimos para conquistar o mundo. Até Hector (Theo James) parece ter aceitado sua nova condição como servo de Lenore (Jessica Brown Findlay) e suas irmãs. Esse conjunto de personagens secundários são tão bem desenvolvidos que conseguem manter o interesse do público mesmo sem interagir com os protagonistas e com a trama principal da temporada, resultando em uma altamente climática e empolgante batalha final entre Carmilla e Isaac ainda no sexto episódio.
Dentre as tramas, traições e conspirações, os personagens também encontram tempo para refletir sobre a vida que estão vivendo e sobre os rumos que estão tomando. Talvez esse seja o aspecto mais realista da série: enquanto alguns personagens, como Carmilla e Saint Germain (Bill Nighy), se perdem em suas obsessões, outros são capazes de evoluir ao longo do caminho e percebem os erros que se repetem ciclicamente em sua vidas. Castlevania se esforça não apenas para mostrar as consequências concretas dos eventos de cada temporada, mas também as consequências psicológicas e como elas afetam o comportamento de cada um dos personagens.
Percebe-se então que Castlevania é uma animação adulta não apenas por causa da violência gore, das cenas de sexo e dos palavrões, mas também por causa da abordagem profunda e inspirada de temas existenciais e filosóficos. Essa era a última coisa que se podia esperar em um desenho animado sobre caçadores de vampiros e demônios em uma fantasiosa Europa medieval, mas o criador Warren Ellis surpreendeu os espectadores tanto com a história quanto com a fantástica animação. Tudo isso torna a série inesquecível e a “condena” a se tornar um fenômeno cult.