Crítica: O Reino Perdido dos Piratas

The Lost Pirate Kingdom, Reino Unido/Alemanha, 2021



Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★☆☆


A série documental O Reino Perdido dos Piratas cobre de forma rápida e instigante um determinado período da Era de Ouro da Pirataria: a ascensão e queda da República dos Piratas. Apesar de não ir muito fundo na História, a produção faz um ótimo trabalho em apresentar os fatos e os personagens envolvidos em uma situação que viria a inspirar muitas aventuras da ficção e entraria no imaginário popular. A série serve para remover parcialmente a romantização que se faz desses criminosos aventureiros, mostrando o que havia de melhor e de pior no mundo real da pirataria.

the lost pirate kingdom 1Seguindo o mesmo modelo utilizado em A Guerra dos Samurais (crítica aqui), a série conta com entrevistas de historiadores combinadas com encenações, misturando cenários, CGI e atores vestidos à caráter. Porém, O Reino Perdido dos Piratas reutiliza com mais frequência o material produzido para representar os acontecimentos, repetindo as mesmas encenações para momentos bem diferentes, o que pode ser um pouco irritante e até mesmo confuso para o espectador. Mas a maior fraqueza da série é o seu apressado final, que não permite que ela se aprofunde nos feitos dos últimos piratas do bando apresentado.

Um dos “protagonistas” é Benjamin Hornigold (Sam Callis), um corsário inglês que fica sem ocupação após o final da Guerra da Sucessão Espanhola, durante a qual ele possuía uma carta de corso que lhe autorizava a atacar navios inimigos. Seu grande rival era Henry Jennings (Mark Gillis), um corsário e fazendeiro que abraça a pirataria depois que seus atos de corso cruzam o limite da lei. Foi Hornigold que “fundou” a República dos Piratas em Nassau, que serviu como abrigo tanto para Jennings quanto para piratas como Black Sam Bellamy (Evan Milton), Paulsgrave Williams (Samuel Collings), Charles Vane (Tom Padley), Black Caesar (Miles Yekinni), Calico Jack (Jack Waldouck), Anne Bonny (Mia Tomlinson) e o famoso Barba-Negra (James Wheatley). A organização durou até o capitão inglês Woodes Rogers (Kevin Howarth) dividir e conquistar o reino dos piratas.

Esses são alguns dos personagens que inspiraram séculos de histórias sobre a pirataria, resultando em filmes como A Ilha da Garganta Cortada e os da franquia Piratas do Caribe, além da série Black Sails, que conta com versões fictícias de alguns desses criminosos. Eles também foram responsáveis por um dos primeiros experimentos democráticos da Idade Moderna, já que tanto a República dos Piratas quanto seus navios eram regidos democraticamente. Se houvesse suspeita de que o capitão havia agido de forma indigna ou em desacordo com o código de conduto dos piratas, a tripulação poderia convocar uma votação e derrubá-lo, decisão que ele seria obrigado a acatar.

the lost pirate kingdom 2Os piratas também ficaram conhecidos por libertarem os africanos escravizados que eles interceptavam nos navios negreiros, oferecendo abrigo e trabalho para os que se interessassem. Esse aspecto de O Reino Perdido dos Piratas complementa os assuntos da série documental Escravidão: Uma História de Injustiça (resenha aqui), que aborda os aspectos históricos, econômicos e legais do tráfico de pessoas escravizadas. Porém, dado que os escravizados tinham um altíssimo valor de mercado, nem todos os piratas eram tão benevolentes quando a situação financeira se complicava.

Fantasticamente narrado por Derek Jacobi, O Reino Perdido dos Piratas conta uma história repleta de criminalidade, idealismo, sexo, sadismo, estratégia e ousadia, protagonizada por figuras que, de um jeito ou de outro, escreveram seus nomes na História da humanidade. No geral, esses marinheiros e combatentes empurrados para as margens da sociedade estão em algum lugar entre a disciplina e o idealismo de Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo e o puro desespero dos piratas modernos de Capitão Phillips.