Crítica: A Sentinela
Sentinelle, França, 2021
Filme mistura drama com ação e tem um resultado menos impactante do que o esperado
★★★☆☆
Talvez se fosse estritamente um drama ou estritamente um filme de ação, A Sentinela poderia ter sido melhor aceito pelo público. A premissa e o material de divulgação sugeriam que esse seria mais um thriller de ação genérico e intenso, com muita ação e pouca conversa. Porém, a proposta do diretor Julien Leclercq é bem diferente. Apesar da pouca ação ser razoavelmente intensa, o filme tem a típica estrutura de um drama, abordando questões de estresse pós-traumático, vício em drogas e impunidade diante de crimes de violência sexual.
Com apenas oitenta minutos de duração, a produção passa tanto tempo estabelecendo a protagonista Klara (Olga Kurylenko) que quase se torna um estudo de personagem. Sua trajetória de uma zona de guerra no Oriente Médio até uma patrulha militar nas ruas de Nice serve para o roteiro levantar reflexões sobre violência e trauma, contrapondo a alta tensão do conflito armado com a relativamente branda normalidade de uma cidade ocidental. Devido ao trauma, Klara jamais sai completamente do “modo de combate”, levando o mesmo nível de paranoia da guerra urbana para o litoral sul da França.
Os aspectos dramáticos de A Sentinela funcionam muito bem, lembrando dramas como Irmãs Separadas (crítica aqui) e Senhores do Crime. A introdução da trama lembra a introdução de Savior: A Última Guerra, enquanto a primeira metade como um todo lembra o final de Guerra ao Terror, apesar da história seguir um caminho diferente. Se tivesse focado apenas no drama e tivesse um roteiro um pouco mais elaborado, talvez a produção poderia ter chegado perto do nível de algum desses quatro filmes citados.
Mas o prometido era um filme de ação e não reflexões sobre violência e trauma. Quando um caricato vilão é finalmente introduzido, fica a impressão de que a ação vai decolar daquele ponto em diante. Porém, a trama segue intercalando as boas cenas de ação com momentos mais sérios e introspectivos, o que só aumenta a decepção de quem esperava a montanha-russa de tiros e porradaria típica de filmes estrelados por Jason Statham ou Liam Neeson.
A Sentinela não é uma decepção no nível de O Ritmo da Vingança (crítica aqui) e nem é necessariamente um filme de ação genérico como Ava (crítica aqui). O problema aqui é que a mistura de gêneros desagrada tanto o espectador que esperava um puro filme de ação quanto aquele que está mais interessado nos aspectos dramáticos. Ainda assim, a atuação de Kurylenko e o desenvolvimento dramático são tão bons que a decepção será menor para quem o assistir como um drama do para quem está interessado na adrenalina.