Crítica: A Guerra dos Samurais – 1ª Temporada

Age of Samurai: Battle for Japan, EUA, 2021



Violenta série documental da Netflix narra um período sangrento e decisivo da História do Japão

★★★★☆


Narrada principalmente por historiadores e contando com ótimas encenações, a série documental A Guerra dos Samurais se destaca por ser altamente informativa e visualmente estimulante. Por não ser um trabalho de ficção, a produção não possui o nível de drama e suspense que muitos gostariam, o que poderia facilmente torná-la uma nova Game of Thrones ou, pelo menos, algo semelhante a Bárbaros (crítica aqui). Com apenas seis episódios e feita para quem está mais interessado na História do que na ação, a série serve como uma ótima introdução àquele período unificador da História japonesa.

Esse é um documentário sangrento, que não economiza ao mostrar decapitações, gargantas cortadas e suicídios rituais. Ainda assim, o nível de brutalidade das encenações é menor do que nos eventos descritos pelos historiadores, que narram batalhas infernais e muitos massacres da população civil. O período coberto vai da ascensão de Oda Nobunaga (Masayoshi Haneda) até a morte de Tokugawa Ieyasu (Hayate Masao), passando também pelo governo de Toyotomi Hideyoshi (Masami Kosaka).

Um dos aspectos que mais chamam a atenção na história contada em A Guerra dos Samurais é a semelhança entre aqueles eventos e muito do que já havia acontecido e ainda iria acontecer na História do mundo. Por exemplo, os guerreiros da província de Iga não apenas utilizaram técnicas de batalha atualmente chamadas de guerrilha, mas também aperfeiçoaram algumas técnicas de espionagem que são utilizadas até hoje, como pode ser visto na série documental O Arsenal dos Espiões (crítica aqui).

Além disso, a resistência coreana à invasão de 1592 utilizou basicamente técnicas que hoje são chamadas de insurgência e que mudaram o curso das guerras dos EUA no Oriente Médio. Essa invasão japonesa teve motivações semelhantes ao início das Cruzadas, que foram utilizadas pela Igreja Católica para mitigar os problemas sociais da Europa medieval. No caso japonês, Toyotomi Hideyoshi precisava dar uma ocupação para a máquina de guerra que havia sido formada ao longo de muitas décadas de guerra civil, que incluía homens que conheciam apenas a vida no campo de batalha.

Outro ponto em comum com outros eventos históricos é o surgimento de líderes ditatoriais tão poderosos que se tornam isolados, paranoicos e descolados da realidade. Depois de viverem vidas marcadas por vitórias grandiosas, eles passam a se achar não apenas invencíveis como também inquestionáveis. A violência que eles empregam no dia-a-dia os tornam tão temidos que seus subordinados não estão dispostos a entregar-lhes más notícias, o que torna suas decisões ainda mais problemáticas. Isso também aconteceu com ditadores como Hitler e Stalin.

Todas essas semelhanças fazem com que A Guerra dos Samurais inspire reflexões sobre a nossa própria era e a importância da estabilidade política e do direito constitucional. Sem isso, qualquer país está condenado a mergulhar em espirais de violência nas quais muitos conflitos são resolvidos com base no derramamento de sangue. O documentário deixa claro que a verdadeira unificação só ocorreu quando alguns dos senhores da guerra entenderam que a paz só seria alcançada por meio de alianças políticas, e não pela destruição dos opositores.