Os 10 Melhores episódios de Black Mirror


*Contém SPOILERS da série Black Mirror

Muitas pessoas ainda acham que Black Mirror é sobre os “perigos da tecnologia”. Porém, as mídias e as tecnologias exploradas pela série não são nada mais do que ferramentas. Os verdadeiros perigos estão nos cantos mais sombrios da natureza humana.

As tecnologias e os fenômenos de mídia mostrados na série apenas dão vazão a alguns dos aspectos mais problemáticos da humanidade: inveja, ciúmes, ganância, crueldade, violência, dentre outros.

Obviamente, essa lista de melhores episódios da série é, acima de tudo, uma questão de opinião. Ainda assim, vale a pena conferir para discordar ou, quem sabe, concordar.

10. Toda a sua história (The Entire History of You, S01E03)

Essa poderia ser apenas uma história sobre ciúmes, paranoia e obsessão, mas a tecnologia acaba “enriquecendo” a experiência dos personagens. No melhor estilo Dom Casmurro, Liam (Toby Kebbell) fica obcecado com a possibilidade de sua esposa Ffion (Jodie Whittaker) tê-lo traído com um ex-namorado.

Infelizmente, nesse universo, as pessoas possuem um chip implantando em suas cabeças que permitem que suas memórias sejam projetadas em telas. Dessa forma, Liam descobre a verdade com som, cores e resolução de altíssima qualidade.

9. Pessoas Comuns (Common People, S07E01)

Em Pessoas Comuns, uma tecnologia revolucionária salva a vida da professora Amanda (Rashida Jones) depois que ela é diagnosticada com um tumor cerebral. Porém, essa “cura” funciona em um modelo de assinatura, exigindo que ela e seu marido Mike (Chris O’Dowd) deem um jeito de pagar valores que vão ficando cada vez mais abusivos.

Essa realidade parece distante, mas a história se inspira em eventos que já aconteceram. O terceiro episódio da primeira temporada da série documental Na Rota do Dinheiro Sujo fala sobre o escândalo da farmacêutica canadense Valeant e de outros casos de abusos de preços.

O caso mais emblemático foi o do odiado gestor de fundo de investimentos Martin Shkreli. O executivo aumentou o valor de um determinado medicamento de US$13 para mais de US$700 dólares. Sua justificativa foi que, como aquele era um remédio que algumas pessoas precisam para continuar vivas, elas teriam que dar um jeito de pagar qualquer valor que fosse.

8. Natal (White Christmas, S02E04)

Esse especial de Natal, lançado após a segunda temporada, explora outro tema comum em Black Mirror: a inteligência artificial. Nesse caso, as IAs são cópias virtuais das mentes e dos corpos de pessoas reais. A pergunta central pode ser elaborada como: se essas cópias fiéis possuem todas as memórias e toda a personalidade das pessoas reais, elas também não deveriam ser consideradas seres vivos e protegidas por direitos humanos?

Em uma das histórias contadas aqui, a cópia virtual de Greta (Oona Chaplin) é psicologicamente subjugada pelo treinador Matt Trent (Jon Hamm), que informa que ela deve controlar todos os aspectos de uma casa inteligente comprada por sua versão original. Assim, enquanto a Greta original vive em uma casa que já conhece exatamente todas as suas preferências, a Greta virtual se torna uma eterna escrava em um mundo vazio.

As outras histórias do episódio mostram possíveis implicações de uma tecnologia que permite tanto a transmissão em tempo real de tudo o que seus olhos veem quanto a possibilidade de “bloquear” pessoas na vida real.

7. Crocodilo (Crocodile, S04E03)

Em um mundo no qual as memórias das pessoas podem ser acessadas e assistidas por autoridades, o quão longe uma pessoa iria para acobertar um crime que ela cometeu? A bem-sucedida arquiteta e mãe de família Mia (Andrea Riseborough) parece ser incapaz de violência, mas ela se mostra disposta a ir até as últimas consequências (e além) para não deixar testemunhas de um crime que ela cometeu.

A questão aqui é que a tecnologia de acesso a memórias tira qualquer subjetividade que testemunhas de crimes poderiam demonstrar, o que dificulta defesas baseadas na dúvida e na incerteza. Diante da certeza de uma condenação, Mia escolhe a violência e se torna uma força altamente destrutiva no tecido social.

6. Beyond the Sea (S06E03)

Por ser uma série de terror e ficção científica, a tônica principal da maioria dos episódios de Black Mirror é o pessimismo. Porém, nenhum outro episódio é tão pessimista quanto Beyond the Sea. A trama trata de inúmeros temas em várias camadas, pontuando uma história sobre isolamento, inveja, fanatismo, desejo, frustração e violência com um final altamente perturbador.

No episódio, dois astronautas (Aaron Paul e Josh Hartnett) em uma missão de seis anos de duração deixam na Terra androides que eles podem controlar remotamente e que vivem com suas famílias. Porém, depois que um dos androides é destruído por um grupo claramente inspirado na Família Manson, os dois viajantes se revezam na unidade restante. Mas diante do trauma sofrido por um deles, um ciclo de violência se perpetua, tendo resultados extremamente trágicos.

5. Eulogy (S07E05)

A tecnologia não potencializa o que há de pior na humanidade em Eulogy, mas é ela quem leva que o protagonista Phillip (Paul Giamatti) a refletir profundamente sobre o seu passado e a enxergar suas próprias ações sob outros pontos de vista. Um dispositivo que permite que Phillip entre em fotos de décadas atrás revela para ele a distância entre suas memórias e os reais acontecimentos daquela época.

O ponto principal é que suas memórias são distorcidas pelo fato de que, durante a maior parte do tempo, ele só leva em conta as próprias necessidades e seus próprios sentimentos. Ele jamais havia percebido as formas pelas quais ele negligenciou os sentimentos e as necessidades de sua namorada Carol (Hazel Monaghan), resultando em uma tragédia romântica que marcou a sua vida.

4. Engenharia Reversa (Men Against Fire, S03E05)

O criador de Black Mirror, Charlie Brooker, se inspirou em dois livros do Século 20 para escrever Engenharia Reversa: Men Against Fire e Matar! Um Estudo Sobre o Ato de Matar. Os dois trabalhos falam sobre os aspectos psicológicos do ato de matar e sobre suas consequências para a sociedade em geral.

No primeiro livro, lançado em 1947, o autor aborda o fato de que a maioria dos combatentes nos conflitos que ele estudou jamais disparou um só tiro no campo de batalha, já que, instintivamente, a maioria dos seres humanos são aversos ao ato de tirar a vida de outra pessoa. Já o segundo livro, lançado na década de 1990, faz um estudo sobre como os exércitos condicionaram seus soldados para superar esses instintos e matarem com mais facilidade, além dos efeitos que isso tem sobre a mídia e sobre a segurança pública.

No episódio, uma nova tecnologia de realidade aumentada é utilizada para ajudar os soldados a desumanizar tanto os combatentes inimigos quanto populações civis. O resultado é que, ao invés de terem que lidar com o peso moral e psicológico de estarem realizando uma limpeza étnica, os soldados se sentem apenas orgulhosos de estarem matando “monstros violentos”.

3. San Junipero (S03E04)

Black Mirror San Junipero

San Junipero talvez seja o episódio mais otimista de Black Mirror. A história de amor entre as jovens Yorkie (Mackenzie Davis) e Kelly (Gugu Mbatha-Raw) pula por diferentes décadas na realidade virtual onde elas estão. No mundo real, elas já estão idosas e vivendo seus últimos anos de vida.

O lado mais inquietante de San Junipero é que, ainda que elas continuem “vivas” no mundo virtual, seus clones digitais não são nada mais do que dados sendo processados por grandes servidores computacionais. As implicações filosóficas dessa “existência” sem problemas reais e, teoricamente, sem fim podem ser um pouco perturbadoras. Indo além, é possível perguntar: por quanto tempo essa existência de festas e romance vai ficar interessante? O que vem depois?

2. USS Callister (S04E01)

Black Mirror USS Callister

Esse é mais um episódio que faz uso de clones virtuais de pessoas reais, mas aqui o cenário é um dos piores possíveis.

Frustrado pela forma como é tratado no ambiente de trabalho, o CTO e co-fundador de um jogo online, Robert Daly (Jesse Plemons), faz cópias virtuais de seus colegas em uma instância privada do jogo. Nela, Daly tem poderes “divinos” e submete os colegas clonados a torturas físicas e psicológicas enquanto os obriga a participar de sua fantasia de exploração espacial. É apenas com a chegada da novata Nanette Cole (Cristin Milioti) que a “tripulação” começa a ter uma chance de escapar.

O elemento mais assustador aqui não é a tecnologia, mas sim a personalidade de Daly. De todas as formas com as quais ele poderia lidar com suas frustrações e inseguranças, ele escolhe se tornar um abusador sádico e ditatorial. Ao invés de usar sua genialidade para realmente provocar mudanças positivas em sua vida, ele prefere provocar dor e sofrimento em outras pessoas, realizando uma fantasia de superioridade desprovida de qualquer objetivo concreto ou significado.

1. Odiados pela Nação (Hated in the Nation, S03E06)

E se os linchamentos virtuais promovidos nas redes sociais tivessem consequências físicas para os “linchados”? E se as massas de pessoas indignadas com o comportamento público de alguém tivessem o poder de matar essa pessoa? Esse é o cenário que encontramos em Odiados pela Nação.

No mundo desse episódio, as abelhas extintas pela atividade humana foram substituídas por enxames de pequenos drones que fazem o mesmo o que as abelhas faziam, mantendo a agricultura em funcionamento. Na linha narrativa principal, as detetives Karin Parke (Kelly Macdonald) e Blue Coulson (Faye Marsay) investigam uma morte misteriosa na qual um dos “drone-abelhas” foi encontrado na cabeça da vítima.

Elas logo associam esse e outros incidentes a uma hashtag que está sendo utilizada por milhares de pessoas. O criador da hashtag #DeathTo (em português, #MorteA) promete que a pessoa mais mencionada nela a cada dia irá morrer. Alguns dias (e algumas mortes) depois, Parke e Coulson descobrem que o enxame de drone-abelhas foi hackeado e está sendo utilizado para cometer os assassinatos.

O tema principal do episódio é a facilidade com a qual muitas pessoas desumanizam as figuras públicas que elas acompanham pelas mídias. Para muitos, todas as pessoas que aparecem nas telas de seus celulares e de seus televisores não passam de personagens. Torcer pela morte deles é como torcer pela morte de um personagem fictício em um filme ou em uma série. Porém, a trama conta com uma reviravolta que torna a situação muito pior do que se poderia imaginar.

Odiados pela Nação e USS Callister são dois episódios que abordam praticamente todos os temas abordados ao longo de Black Mirror. Porém, assim como os demais episódios, eles não precisam ser profecias, mas sim avisos que nos ajudam a evitar a concretização desses pesadelos midiáticos e tecnológicos.