Crítica: Invencível – 3ª Temporada
Invincible – Season 3, EUA, 2025
Prime Video · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Mark Grayson/Invencível (Steven Yeun) pode estar ficando cada vez mais forte e mais rápido, mas os principais golpes que ele recebe nessa terceira temporada são muito mais psicológicos do que físicos. Seus valores, sua identidade e até mesmo sua existência são colocados em xeque por uma sequência de acontecimentos que mais uma vez o leva a questionar toda a sua trajetória como ser humano. A ação está mais violenta do que nunca, mas é o impacto psicológico dela que mais uma vez abala os alicerces do protagonista.
A temporada começa com Mark tendo um seríssimo conflito com Cecil (Walton Goggins) depois de descobrir que ele está recrutando alguns de seus inimigos como aliados. Do ponto de vista de Mark, se unir com figuras como DA Sinclair (Eric Bauza) e Darkwing II (Cleveland Berto) vai longe demais em seus esforços para defender o planeta. Para Cecil, que vai longe demais na direção oposta, essas alianças precisam ser feitas em nome de um bem maior.
Mas esse é apenas o primeiro desafio ético e moral com o qual Invencível precisa lidar nessa temporada. Além de uma traumatizante viagem para o futuro, o protagonista precisa processar os danos causados por personagens como Powerplex (Aaron Paul) e Angstrom (Sterling K. Brown), ambos em busca de retribuição contra o super-herói.
A questão é que Mark se sente culpado por situações que não foi ele quem criou. Se seu pai, Nolan (J.K. Simmons), jamais tivesse vindo para a Terra e Mark jamais tivesse nascido, muitas mortes e muitos eventos traumáticos para a humanidade jamais teriam acontecido. Já que essas situações não podem ser “consertadas”, ele é levado a pensar que a única solução seria ele jamais ter nascido.
Percebe-se então que ele está lidando com batalhas psicológicas que jamais poderão ser “vencidas”. Não há aqui uma vitória a ser alcançada, mas pensamentos e sentimentos que, de alguma forma, precisam ser superados. Uma vez que não é possível alterar o passado, o herói precisa encontrar uma forma de seguir em frente e usar seus poderes para evitar uma repetição das catástrofes que o marcaram até o momento.
Isso vai exigir que ele reveja seus valores e sua identidade. Em um esforço para se distanciar das impiedosas e homicidas ações de seu pai, Invencível vinha fazendo o máximo possível para evitar matar seus inimigos. Agora, depois de mais milhares de mortes causadas pelos vilões, ele se vê obrigado a revisar essa premissa. Porém, essa mudança em seus parâmetros de batalha aumenta a distância entre o homem que ele gostaria de ser e o super-herói que ele precisa se tornar.
Um dos poucos alívios que Mark tem nessa temporada de Invencível é o fato de que ele e Eve (Gillian Jacobs) finalmente reconheceram os sentimentos que nutrem um pelo outro. Ela também está passando por suas próprias atribulações emocionais, mas agora eles se sentem menos sozinhos em seus dilemas e em seus processos de amadurecimento.
Eve também acaba ficando no centro dos maiores desafios físicos e psicológicos que Mark precisa enfrentar nessa temporada. Nos dois últimos episódios, enquanto ele se vê no limite de seus poderes, ela acaba sendo ferida em batalha. Esse é mais um significativo golpe emocional que Mark recebe, dessa vez durante batalhas contra os inimigos mais poderosos que ele enfrentou até o momento.
Esses traumáticos eventos também resultam em uma mudança negativa na narrativa da série. Enquanto nas temporadas anteriores a violência contra os seres humanos foi tratada com todo o peso necessário, dessa vez as muitas (e extremamente violentas) mortes causadas pelos vilões acabam sendo parcialmente banalizadas. É como se elas fossem muito mais mecanismos do roteiro do que eventos dramáticos.
Na medida em que a trama ressalta os efeitos psicológicos desses eventos sobre Invencível, ela negligencia os efeitos deles sobre o restante da humanidade. É como se o restante do mundo estivesse assistindo de forma passiva enquanto Cecil e Invencível são os únicos tentando fazer alguma coisa. As consequências geopolíticas, econômicas e sociais desses acontecimentos dificilmente são abordadas pela trama.
O episódio focado em Powerplex até vai mais fundo nesse sentido, mas os dois episódios finais, que contam com eventos quase cataclísmicos, ficam devendo.
Apesar disso, essa é mais uma temporada de uma história de super-heróis que está mais interessada no aspecto humano desse subgênero, chegando a lembrar a abordagem da série Legion. Por mais que seja uma fantasia cheia de ação e superpoderes, Invencível também serve como reflexão sobre as escolhas que nós fazemos a partir das nossas habilidades, das nossas responsabilidades e dos nossos traumas no mundo real.