Crítica: Babygirl

Babygirl, EUA, 2024



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★★


Na longa lista de thrillers eróticos do Século 21, Babygirl chega com uma narrativa intensa, dinâmica e divertida de acompanhar. O mergulho que a diretora Halina Reijn faz nas fantasias sexuais de sua protagonista também serve como comentário sobre como as pessoas lidam com os próprios desejos. E, para quem curte o tipo de fantasia presente aqui, a produção conta com diferentes tipos de momentos picantes.

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As reações que muitos espectadores estão tendo a Babygirl revelam a importância de algumas das mensagens do filme. Enquanto a narrativa tenta apresentar a realidade sexual da protagonista Romy (Nicole Kidman) sem julgamentos, parte do público insiste em tentar categorizar a trama de acordo com seus próprios valores morais, religiosos ou ideológicos. Mais que isso, alguns comentários revelam como as pessoas desconhecem a amplitude da sexualidade humana.

O filme não tenta defender ou representar fielmente comportamentos sexuais específicos, mas sim retratar a jornada de uma mulher que ainda está se descobrindo e se aceitando. Se Romy, que é CEO de uma empresa de robótica, começa um inapropriado relacionamento sexual com o estagiário Samuel (Harris Dickinson), é porque pela primeira vez em sua vida ela tem a oportunidade de dar vazão aos seus verdadeiros desejos sexuais.

Se esses desejos passaram décadas sendo reprimidos, é porque Romy tenta a todo custo manter uma perfeita e sanitizada imagem de mãe de família e líder empresarial. Essa imagem não é compatível com as fantasias de submissão que ela jamais revela para seu marido, Jacob (Antonio Banderas). Durante muito tempo, sua única válvula de escape é se masturbar com a ajuda de pornografia temática depois de fazer sexo “performático” com o marido.

Não é que Jacob seja insosso ou “ruim de cama”, mas sim que o sexo convencional que o satisfaz não é suficiente para satisfazê-la. Além disso, se Romy jamais comunica suas necessidades, é porque ela tem vergonha de suas fantasias sexuais. Seu desejo de ser dominada e de ter a sensação de que está fazendo algo proibido não é compatível com suas imagens pública e familiar, causando um alto grau de dissonância cognitiva.

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O que Babygirl tenta ressaltar é que toda essa vergonha e repressão sexuais pode ter resultados mais do que indesejados. Romy dificilmente se envolveria com um estagiário e colocaria todas as suas conquistas pessoais em risco se não estivesse há muitos anos sexualmente insatisfeita. Dado que ela ainda ama Jacob e não pretende deixá-lo, a verdadeira solução aqui é que o casal encontre alguma forma de equilíbrio, de maneira que os dois fiquem satisfeitos e nenhum deles corra riscos desnecessários.

Um exemplo disso é como o casal no centro de Trama Fantasma encontra um “bizarro” equilíbrio para sua relação, apesar de nesse caso se tratarem de necessidades emocionais ao invés de necessidades sexuais.

Sem a satisfação no matrimônio, Romy se torna obcecada com o tórrido, excitante e perigoso caso que ela começa com Samuel. Babygirl explora a temática das fantasias de submissão de forma contida, já que esse não é o tema principal aqui, mas apenas uma fonte de provocação e de humor. Mesmo filmes como Secretária e O Duque de Burgundy jamais chegam nos aspectos mais hardcore e sadomasoquistas que essas práticas podem envolver.

No mais, os jogos de luzes, sons e sedução fazem de Babygirl uma memorável sessão de cinema, mantendo o espectador engajado tanto com o humor quanto com o suspense. Nesse sentido, um dos grandes destaques é a trilha sonora, com fantásticos usos de canções como Never Tear Us Apart e Father Figure, além de uma insana cena em uma rave ao som de Crush.