Crítica: A Conspiração Consumista
Buy Now: The Shopping Conspiracy, EUA, 2024
Netflix · Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Com menos de uma hora e meia de duração, o documentário A Conspiração Consumista consegue chamar a atenção para um aspecto extremamente negligenciado da nossa atual cultura de consumo: para onde vão as coisas que nós “jogamos fora”? O que o filme deixa claro é que não existe esse “fora”, mas sim montanhas de lixo que contaminam o solo, os rios e os oceanos ao redor do mundo.
Seguindo nos moldes do documentário O Dilema das Redes, a produção conta com entrevistas de ex-executivos das indústrias do varejo e da tecnologia. Eles revelam como começaram a perceber que os trabalhos que realizavam, sempre focados no curto prazo, estavam tendo consequências negativas para o meio ambiente e para as pessoas em geral.
Por diversos motivos, a humanidade está gerando cada vez mais lixo para ser descartado. Além disso, esse lixo está cada vez mais nocivo para a natureza, já que é composto majoritariamente por plásticos e pelos componentes tóxicos de equipamentos eletrônicos, como as baterias de lítio presentes em celulares e laptops.
Na raiz desse problema, há a “conspiração consumista” do título, que diz respeito às ações tomadas pelas empresas para garantir que as pessoas continuem comprando seus produtos mesmo sem necessidade. Práticas como a obsolescência programada, a compra com um clique e a chamada fast fashion colaboram para que cada vez mais produtos sejam descartados pelos consumidores ou pelas próprias empresas, que preferem destruir o excedente da produção a doá-lo.
Mesmo as doações e a reciclagem não são capazes de dar vazão a imensa quantidade de produtos produzidos no mundo. O filme mostra, por exemplo, que a população de Gana não consegue absorver todo o volume de roupas que recebe como doação, levando esses itens a serem descartados no oceano e voltando para poluir as praias.
Já a ideia que nós temos de reciclagem precisa ser atualizada, pois nem todos os itens considerados recicláveis realmente o são. Além disso, o processo de reciclagem pode gerar uma poluição ainda mais nociva, como os já conhecidos microplásticos.
As informações apresentadas em A Conspiração Consumista são tão pessimistas que podem levar o espectador a achar que “não tem mais jeito”. Porém, o documentário também traz propostas de como reverter esse cenário. Para começar, nós podemos comprar menos produtos desnecessários e fazer compras de forma menos impulsiva.
Porém, é justamente esse tipo de reflexão que muitas empresas não querem que o consumidor faça. Focando em resultados de curto prazo, os grande executivos estão interessados apenas em maximizar o lucro, sem se importar com as consequências disso no médio e no longo prazo.
Nesse sentido, uma das medidas propostas é que as empresas passem a considerar o “fim de vida” de seus produtos ainda durante a fase de projeto, levando a itens que serão menos agressivos ou até mesmo biodegradáveis quando descartados.
Caso as empresas não tenham essa iniciativa, os governos podem criar regulamentações para garantir que os recursos naturais vitais para a nossa sobrevivência não sejam contaminados de forma irreversível. As autoridades também podem investir em coletas estratégicas, visando diminuir as chances do lixo ir parar em rios ou em outros locais inadequados.
A fiscalização e a punição também são importantes. Como mostrado parcialmente no filme, já existem até máfias que atuam na coleta e no descarte de grandes quantidade de lixo, como as que enviam containers cheios de dejetos para o Brasil e para outros países.
No fim das contas, A Conspiração Consumista mostra que quando tratamos todo e qualquer produto como algo descartável, estamos colaborando para uma contundente degradação ambiental. Ao priorizar o lucro em detrimento de todo o resto, as grandes empresas estão criando uma situação que pode ter consequências quase apocalípticas.