Crítica: Gladiador II
Gladiator II, EUA/Reino Unido, 2024
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A qualidade de Gladiador II vai depender estritamente da boa vontade do espectador. Se a ideia é que esse filme reproduza a épica e emocionante experiência proporcionada pelo Gladiador original, então ainda não foi dessa vez. Apesar disso, o diretor Ridley Scott consegue compor um empolgante épico de ação, acompanhado de uma envolvente e sanguinária trama política.
Se a trama de Gladiador II tem uma pegada extremamente novelesca, é porque ela está tentando ser uma continuação da história de Maximus Decimus Meridius (Russell Crowe), o protagonista do primeiro filme. Aqui, os fãs irão descobrir o que aconteceu com os sobreviventes e com a Roma mostrada em Gladiador. Porém, a história parece se repetir, já que essa continuação segue com certa fidelidade a fórmula do primeiro.
Dada a quantidade de revelações e reviravoltas presentes na trama, o filme será melhor aproveitado pelos espectadores que não assistirem aos dois trailers, que mostram mais do que o necessário. De antemão, basta saber que Gladiador II aborda os efeitos da chegada do misterioso gladiador Hanno (Paul Mescal) sobre o status quo do Império Romano. Mas o que realmente faz a diferença é que Hanno é propriedade do ambicioso Macrinus (Denzel Washington), um senhor de escravos que parece querer chegar ao topo do poder.
Hanno nutre um ódio pessoal pelo general Acacius (Pedro Pascal), que foi o responsável pela conquista da Numídia, local onde Hanno e sua esposa Arishat (Yuval Gonen) moravam. Acontece que Acacius é casado com Lucilla (Connie Nielsen), a irmã do imperador romano do primeiro filme. Juntos, eles se opõem secretamente ao domínio dos irmãos que compartilham o trono romano, Geta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger).
Veja que esse cenário possui os ingredientes necessários para conspirações envolvendo traição, espionagem e manipulação política, e é exatamente isso o que o filme coloca na tela. Apesar das figuras históricas envolvidas, a trama não está nem um pouco preocupada com precisão histórica. Os pratos principais aqui são a vingança de um gladiador e as maquinações de um senhor de escravos que explora as fragilidades e as instabilidades de senadores e imperadores.
Gladiador II representa uma recuperação para a carreira de Ridley Scott, cujo filme anterior havia sido o inexplicável Napoleão. Dessa vez, o roteiro está focado em acontecimentos que realmente interessam ao público, além de possuir uma narrativa que se move de forma ágil pelos pontos da história. Além disso, as ótimas cenas de ação garantem todo o espetáculo e todo o entretenimento que o público quer aproveitar.
Assim como Gladiador, essa continuação também encontra tempo para refletir sobre os ideais da civilização romana e sobre como eles estão distantes da realidade daquele momento, além da obsessão do povo romano pelos espetáculos dos jogos. Enquanto há um momento no qual Hanno nos lembra do mito fundador de Roma (que é uma das bases da série de ficção científica Raised By Wolves), Macrinus é obcecado com a queda do Império (que é a preocupação central da fábula moderna Megalópolis).
No fim das contas, Gladiador II é realmente “necessário”? A resposta é não, mas isso não muda o fato de que o filme é intenso, envolvente e grandioso. Não se trata apenas do uso que Ridley Scott faz dos grandes cenários e das grandes cenas de ação, mas também do uso que ele faz de um fantástico elenco, que brilha das mais diferentes formas. Mesmo que os discursos de Hanno não cheguem nem perto de ter o mesmo impacto que os discursos de Maximus, a trama ainda é capaz de nos lembrar de que “o que fazemos em vida ecoa pela eternidade.”