Crítica: X-Men – Dias de um Futuro Esquecido
X-Men: Days of Future Past, Estados Unidos, 2014
Um dos melhores filmes com os X-Men, Dias de um Futuro Esquecido constrói os alicerces para um franquia mais sólida.
★★★★☆
As expectativas para esse X-Men: Dias de um Futuro Esquecido eram altas, e o filme faz jus a elas. As cenas de ação com as Sentinelas do futuro são de tirar o fôlego e a trama ficou digna dos X-Men. Entretanto, apesar do filme ter um roteiro muito bem amarrado, me incomodei um pouco com a amarração entre essa história e a de outros filmes da franquia. O artifício da viagem no tempo e o surgimento de realidades alternativas funciona bem, mas deixa algumas pontas soltas em relação às outras histórias. Talvez eu esteja enganado.
A primeira coisa que me surpreendeu foi a inserção de elementos mais adultos na narrativa. Como a maioria dos outros, a classificação desse também é de 12 anos (PG-13 nos EUA), mas temos aqui o uso muito mais livre de palavrões e até uma cena de nudez. Mas o que realmente me surpreendeu nesse sentido foi a brutalidade das cenas de ação com as Sentinelas. Prepare-se para ver alguns dos seus mutantes mais queridos sendo incinerados, empalados, partidos ao meio e decapitados nas cenas que se passam no futuro. Não é agradável, mas essas cenas servem para mostrar o quão implacáveis são essas novas Sentinelas.
O espectador até se pergunta como dois pequenos núcleos dos X-Men sobreviveram tanto tempo assim. O grupo com Kitty Pride e Colossus utiliza o recurso da viagem no tempo para sobreviver, mas não sabemos como o grupo com o Professor X e Magneto faz para se livrar das Sentinelas. Acredite, mesmo com Tempestade, eles não tem a menor chance de vitória em um confronto direto.
Se o que surpreende no futuro são as Sentinelas, no passado a surpresa fica por conta da carga dramática da trama. Quando Wolverine chega a 1973, encontramos um cenário bem diferente do que vimos no final de X-Men: Primeira Classe. Os únicos moradores da mansão em Westchester são um “drogado” e desiludido Charles Xavier e um fiel e prestativo Hank McCoy. Enquanto isso, Magneto/Erik está em uma prisão de segurança máxima (feita de concreto, plástico e vidro) por supostamente ter assassinado um importante político.
Os outros jovens mutantes foram convocados para a Guerra do Vietnã e/ou tiveram um terrível fim nas mãos das Industrias Trask. A única que ainda anda por aí tentando realizar a sua “missão” é Mística, e ela é justamente o ponto central de toda a trama. É quando ela assassina Bolivar Trask que o governo americano aprova a construção da primeira versão das Sentinelas; e, depois que ela é capturada pelo assassinato, é seu DNA que é utilizado para a criação das invencíveis Sentinelas do futuro.
A pequena equipe montada em 1973 tem como objetivo impedir esse assassinato e a captura de Mística pelas Industrias Trask. Parece uma missão simples, mas os laços de amizade entre o trio formado por Xavier, Magneto e Mística estão completamente despedaçados. Tudo só piora com a relutância de Xavier, a impiedosidade característica de Magneto e o desejo de vingança de Mística, que perdeu vários amigos para as Industrias Trask. O fato desse trio ser interpretado por ótimos atores é o que possibilita todo o peso e a seriedade desse arco dramático.
As pontas soltas que me incomodaram dizem respeito à lógica cronológica de toda a franquia. Por exemplo, há uma inconsistência clara entre o que é mostrado aqui e o que ocorre nos três primeiros filmes: se as primeiras Sentinelas foram desenvolvidas e se tornaram conhecidas pelo governo e pelo público nos anos 70, por que nos três primeiros filmes elas simplesmente não aparecem, ou são apenas brevemente mencionadas? Note que ninguém voltou no tempo para cria-las, portanto, teoricamente elas sempre fizeram parte da linha principal de acontecimentos.
Outra questão é a ligação entre o último filme solo de Wolverine e o apocalíptico futuro mostrado aqui: como na cena pós-créditos de Wolverine: Imortal vemos Xavier e Magneto convocando Wolverine para ajudá-los contra uma nova ameaça (as novas Sentinelas), eu esperava ver aqui algum tipo de explicação para o retorno dos dois, já que ao final de X-Men: O Confronto Final Magneto está sem seus poderes e Xavier só está vivo porque foi para o corpo de outra pessoa, ou algo parecido. Porém, apenas fica subentendido que, depois da convocação de Wolverine e da reunião dos X-Men, eles lutaram e perderam a guerra contra as Sentinelas.
Esse tipo de problema ocorre devido à forma como os filmes foram feitos, sem um planejamento coeso para as sequências, como foi feito com o universo dos Vingadores. Mas enfim, nada disso vai importar daqui pra frente, pois, depois dos eventos ocorridos com a chegada de Wolverine ao passado, uma nova linha de acontecimentos terá início, e os eventos dos primeiros filmes ficarão restritos a uma outra realidade. É uma forma até elegante de dar um reboot geral e criar uma franquia melhor amarrada.
Pra finalizar, vale lembrar de algumas das cenas de ação que se passam nos anos 70. A maioria delas não são muito impactantes, mas temos dois destaques. O primeiro é a divertida cena na qual Mercúrio usa sua super velocidade para resgatar Magneto da prisão. Vale a pena ver e rever a forma pela qual ele resolve uma complicada situação que acabaria com vários mutantes mortos se ele não estivesse lá. O outro destaque é mais no final, quando Magneto mais uma vez utiliza seus poderes da forma mais megalomaníaca possível, assim como ele o fez ao final de X-Men: Primeira Classe. Apenas épico.